A DETETIVE VITORIANA LOVEDAY BROOKE, DE CATHERINE L. PIRKIS
Sinopse: “Loveday Brooke é a primeira protagonista feminina detetive escrita por uma autora mulher. Ela é uma detetive com cultura ampla, sagaz, inteligente e intuitiva, que descobre seus talentos e decide monetizá-los.
Sob a ótica de uma mulher, Loveday resolve os mistérios sempre contrariando a seus superiores ou ao julgamento dos personagens homens da história, que incorrem no erro de considerarem apenas a lógica masculina como a correta, mostrando que suas contravenções vêm da necessidade de se reconhecer a relevância do olhar diversificado.
Catherine Louisa Pirkis acabou criando uma das personagens mais transgressoras do gênero, contribuindo para uma representação mais progressista das mulheres dentro da literatura na ficção popular. Em sua época, Loveday Brooke ficou tão famosa que foi apelidada de “Sherlock Holmes feminina” e foi um dos sucessores mais vendidos do famoso detetive.
O livro foi lançado em 1894 e é lançado pela primeira vez no Brasil pela Editora Urso em uma edição de capa dura, com ilustrações originais.”
Corro o risco de ser muito simplista, mas não consigo fugir da opinião de que Loveday Brooke é incrível! Uma senhorita detetive totalmente liberta dos estereótipos mais irritantes das personagens femininas que se propõem a fazer bem feito um trabalho tipicamente masculino. Ela é livre de traumas violentos, artimanhas sedutoras e interesses românticos: é simplesmente uma mulher inteligente que é remunerada por sua perspicácia investigativa. Tudo isso na Inglaterra conservadora dos tempos da Rainha Vitória (1838-1901)!
Uma mulher tão incrível assim só podia ter sido criada por uma outra: Catherine L. Pirkis, autora de 14 livros, escritos entre 1877 e 1894. Detalhe: ela começou suas atividades literárias aos 38 anos, quando já era casada e mãe de dois filhos! Protetora dos animais, em parceria com o marido fundou a hoje conhecida como Dog’s Trust, a maior organização de resgate de animais do Reino Unido. (tá passada??!!!)
Um dos pontos altos de Loveday é saber lidar com muita tranquilidade com a frequente desconfiança a respeito dos seus métodos investigativos. Ela tem confiança em seu trabalho, em seu olhar para os detalhes, para os pormenores, para as pessoas livres de qualquer suspeita. Portanto, para ela, pouco importa a opinião alheia, desde que a deixem trabalhar. O resultado da investigação ela explicará com riqueza de detalhes no final do caso.
As aventuras da senhorita detetive Loveday Brooke segue o estilo book case (livro de casos, com sete histórias curtas sem conexão entre elas), muito popular entre os autores de narrativas policiais, especialmente dessa época. Aqui no Brasil, Loveday Brooke é o primeiro título da coleção Senhorita Detetive, um resgate feito pela editora Urso de histórias de mistério escritas por mulheres e protagonizadas também por elas.
Vale a pena conhecer, apoiar e ler esses livros! Até o momento eu li apenas este primeiro volume, mas venho apoiando os financiamentos coletivos de todos os títulos da coleção, a saber, até o momento: A filha de Hagar, Pauline Hopkins, Lady Molly e Mary Granard, da Scotland Yard, da Baronesa Emma Orczy e O caso ao lado, de Anna Katharine Green.
Saiba mais sobre a editora Urso e a coleção Senhorita Detetive neste link.
Loveday Brooke, além de ótima leitura, tem edição primorosa, muitas notas de apoio, ilustrações originais e texto complementar de Ana Cláudia Fagundes da Cunha Casagrande Ramuski, com informações sobre a autora e o contexto literário de suspense e mistério da época.
Abaixo, separei cinco momentos que mostram um pouco da personalidade dessa detetive vitoriana. Que delícia foi conhecer a Srta. Brooke!
“Os assaltantes encontrariam alguma maneira de criar condições para o assalto, tenha certeza disso; eles chegaram a um alto desenvolvimento nos dias de hoje. Os assaltantes não ficam mais espreitando como faziam a cinquenta anos com um bacamarte e um cassetete; eles planejam, enredam, maquinam, e trazem imaginação bem como recursos artísticos para assisti-los. Aliás, é frequente me ocorrer que aquelas histórias populares de detetives, para as quais parece haver grande demanda atualmente, devem ser, às vezes, singularmente úteis para os tipos criminosos.” (p. 83)
“Até onde minha experiência permite dizer, nossos problemas são mais parte de nós do que nossa pele faz parte do nosso corpo.” (p. 91)
“‘Às vezes’, respondeu a Srta. Brooke calmamente, ‘ a explicação óbvia é aquela que deve ser rejeitada, e não aceita'” (p. 141)
“Eu realmente acredito que os que trabalham duro, depois de um tempo, perdem a capacidade de tirar férias.” (p. 171)
“Casos criminais são como febre; eles devem ser lidados em até vinte e quatro horas.” (p. 205)
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Referências:
https://en.wikipedia.org/wiki/Catherine_Louisa_Pirkis