Sinopse: “Quando viu o nome bichectomia escrito no panfleto de uma clínica do bairro, Carolina logo decidiu que queria uma.”
Este conto foi publicado na coletânea Miríade, da Andross Editora. Saiba mais aqui.
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Era para ser uma tarde como outra qualquer, mas Carolina decidiu fazer uma Bichectomia. Assim, do nada. Bem, não do nada, mas a partir do momento em que leu bichectomia no panfleto de uma clínica do bairro. Decidiu que queria um negócio desses. Nome legal, bi-chec-to-mi-a.
– Moça, por favor! – disse, batendo no balcão. – Quero uma bichectomia.
A secretária olhou para Carolina parecendo não entender o pedido.
– A senhora quer uma bichectomia? A senhora está ciente do que se trata esse procedimento?
Carolina vacilou, mas logo se recompôs.
– Vi no panfleto. Quero uma bichectomia.
A secretária sorriu amarelo e foi ver com o doutor se a mulher poderia ter sua bichectomia sem demora.
O doutor chamou por Carolina e explicou-lhe rapidamente sobre o procedimento. Algumas agulhas, raspagens e ela ficaria, em poucas horas, tal qual uma personagem de Hollywood!
Carolina desejou ter lido com mais atenção o panfleto da clínica.
Adormeceu. Quando acordou, estava sozinha. Tinha dificuldade para falar. Seu rosto estava estranho, seco… duro. Carolina… não tinha mais bochechas! Olhou para um caco de espelho e viu-se refletida. Tinha um rosto bizarro! Mas que jeito de passar a tarde!
– Doutor, doutor! – ela chamou.
O doutor apareceu na porta do quarto com um engravatado e uma pilha de papéis.
– Dona Carolina, eu posso explicar. A senhora foi a minha primeira paciente de bichectomia… quis tentar algo novo… nós vamos reparar o dano, fique tranquila!
– Doutor, doutor! – interrompeu Carolina, estranhando sua própria voz, agora esganiçada. – Eu ia lhe perguntar se já posso sair.
Os doutores, pasmos, abriram passagem para a mulher sem bochechas, sem dizer palavra.
– Eu, hein! Pensaram que eu não sabia o que era bichectomia? Que boa essa técnica de aumentar os lábios afinando o rosto. Só queria não ter ficado com aparência tão gótica…
Carolina não daria o braço a torcer mesmo que achasse estar feia, o que não achava. No mais, gostava mesmo de chamar atenção. Recomendaria o procedimento a algumas de suas amigas. Certeza!