[CRÔNICA] OLÍVIA, UM TEXTO DESCRITIVO

Olívia, minha musa inspiradora, com 1 ou 2 meses.

 

Estou fazendo um curso de redação na modalidade EAD pela Universidade Federal Fluminense (UFF), intitulado “Redação Prática: comunicando ideias por escrito“. Tem sido uma ótima oportunidade para aprender e treinar essa arte trabalhosa que é a escrita. Meu primeiro exercício prático foi elaborar um texto descritivo. Alguns temas foram propostos e eu escolhi escrever sobre um ser humano que eu conhecesse bem. Como é notório, Olívia tornou-se o meu tema favorito! Confira o texto abaixo; críticas são (sempre) muito bem-vindas!

 

Olívia

Ela veio ao mundo trazida pelo sol de uma terça-feira. Antes disso, sentia-se confortável. Vivia em um lugar quente, aconchegante e seguro. Obviamente, nos últimos tempos o aconchego dava lugar a um aperto, em que mal conseguia mexer-se. Sentia a sua casa mover-se em demasia, como se não houvesse um lugar em que pudesse repousar. Ainda assim, era o melhor lugar do mundo para se viver.

Na nova casa, uma casa muito diferente daquela a qual acostumara-se, gostava de perceber tudo. Seus olhos, desde as primeiras piscadelas, eram, portanto, atentos, como se quisesse reconhecer o quanto antes aquele mundo que outrora fora apenas sons e leves movimentos. Era tanta informação! Seria capaz de aprender tudo? Teria que aprender, pois não era possível retornar à antiga casa. Fora arrancada depois de uma janela ter sido aberta, depois de haver sido forçada durante muitas horas a sair sozinha.

Tinha bom peso e medidas. Mediram-lhe toda. De uma pontinha a outra. Falaram alguma coisa sobre estar tudo bem a uma pessoa que não conhecia ainda. Ela estava deitada e adormecera antes que o médico pudesse acabar de falar. Sua pele, de aspecto aveludado e um aroma angelical, possível apenas em seres recém-chegados a este universo, era branca, mas não pálida. Parda, como dizia alguns papéis, inclusive o que serviria para o seu registro civil. Tinha cabelos. Alguns cabelos negros, assim como o de seus pais. Mas com falhas, o que, entretanto, não roubava-lhe um milímetro sequer de graciosidade. Era de uma beleza ímpar, assim como todos os bebês.

Pensava ser o mundo uma escuridão orquestrada por batidas ora regulares, ora irregulares. Sentiu-se feliz em reconhecer as mesmas batidas e uma voz, a primeira voz de que teve consciência, em um dos abraços que recebeu. Soube que era da pessoa que ainda não conhecia; aquela que adormecera em uma mesa antes que o médico conseguisse finalizar a frase. Olívia gostava de ficar naquele abraço. Foi amor à primeira percepção. Aquele abraço, colo, como diziam, dava-lhe sustento. Era um abraço com cheiro de lar.

Era uma menina, mas já havia ganhado o mundo. Tinha uma grande família e um lar acolhedor. Tinha um quarto só dela, mas dormia com o colo que tinha cheiro de lar e dava-lhe sustento, e com outra pessoa, que também tinha cheiro de lar. Começara a fazer coisas e emitir sons que alarmavam a todos, especialmente sua mãe. Soube quem era sua mãe. E também, seu pai. Um pequeno choro e já não estava mais sozinha, podia ser claro ou escuro, como em sua antiga casa.

Percebeu-se feliz, pois sua chegada iluminara a todos. Muito mais que o sol daquela manhã.

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