[RESENHA] AMOR E ORGULHO, DE GEORGES OHNET

Uma Complexa teia de paixão, interesses, ciúme e vingança. Um embate entre o amor, orgulho e o dinheiro que emerge com consequências inesperadas.

A história narra a trajetória da orgulhosa filha do marquês de Beaulieu, que no auge dos seus 22 anos, é traída pelo seu grande amor de infância e se casa com o poderoso industrial Philippe Derblay  por pura vingança. Apesar de falida, Claire despreza o amor sincero que o rico empresário nutre por ela. Uma trama envolvente, onde o amor tenta de todas as formas vencer o preconceito. Este foi o mote utilizado pelo autor para ilustrar o preconceito da classe aristocrática com relação à burguesia que ganhava espaço e crescia com o esforço do próprio trabalho, no final do século XIX.

Sinopse: “Claire de Beaulieu é uma bela aristocrata francesa. Quando seu pai morreu, a mãe descobriu que a família Beaulieu estava arruinada. A única esperança era um processo judicial na Inglaterra, o qual a família perdeu e escondeu o trágico resultado da orgulhosa moça. Apaixonada pelo primo, o duque de Bligny, ela está prometida a ele, mas Bligny é superficial, um jogador, não cumpre sua palavra e ainda fica noivo de Athenais, a inimiga número um de Claire. Athenais, contudo, é uma jovem burguesa, com uma imensa fortuna, que permitirá ao duque resgatar todas as suas dívidas de jogo. A orgulhosa Claire, por despeito, ao saber que Philippe Derblay, um engenheiro e dono de uma usina siderúrgica em Pont-Avesnes, vizinha do castelo de sua família, está muito interessado nela, oferece a sua mão em casamento por vingança.”

Tradução de Silvia Caldiron.

 

Se eu precisasse sintetizar esse livro em uma única palavra, certamente seria viciante. Publicado originalmente em 1882 e com diversas adaptações para o cinema e teatro, o livro de Georges Ohnet, Amor e Orgulho, com publicações em português também com título O Grande Industrial, reúne o que há de melhor em histórias românticas: amor, drama, vingança e paixão.

Claire Beaulieu é uma jovem aristocrática, filha de um marquês falido, mas que não sabe o destino de pobreza destinado à sua família após a morte do pai. Altiva, arrogante e extremamente geniosa, a mãe acaba por poupá-la das preocupações financeiras da família. Claire inicia o romance comprometida com o primo, o duque de Bligny, que fora acolhido em sua casa ao ficar órfão. No entanto, o moço anteriormente apaixonado, torna-se um homem comprometido com jogos de azar e libertinagens, em uma temporada na Rússia. Claire se considera noiva de seu primo Gaston, até ser surpreendida com a notícia que ele vai se casar com Athenais, uma antiga rival dos tempos de colégio. A futura duquesa de Bligny é uma nova rica, uma mulher capaz de tudo para humilhar e destruir a felicidade de Claire.

Na propriedade vizinha a dos Beaulieu vive Philippe Derblay, um rico e bem sucedido industrial, que enriqueceu as custas de seu trabalho, ao invés de simplesmente ostentar um título, como muitos membros da nobreza. Humilde e querido por todos, ele apaixona-se por Claire, mesmo percebendo o caráter difícil da moça. Em uma manobra para satisfazer as boas aparências e o orgulho, Claire, sabendo das intenções de Derblay, se oferece em casamento a ele no mesmo instante que recebe a notícia do noivado do duque de Bligny e Athenais. Ela convence Philippe a mostrar para a sociedade, especialmente para o duque, que o compromisso é anterior ao dele, e o casamento é apressado para acontecer antes mesmo que o da rival, Athenais.

Monsieur Derblay, muito apaixonado e com esperanças de logo conquistar o coração de Claire, aceita todas as suas imposições, sem questionar. No entanto, a situação toma proporções dramáticas quando, na noite de núpcias, Claire demonstra toda a sua frieza e arrogância, confirmando que ainda tem sentimentos pelo duque. Philippe até então manso como um cachorrinho adestrado, mostra que também sabe ser um homem de opinião firme e implacável, mesmo com o coração partido. A partir daí, muitas reviravoltas na vida e nos sentimentos do casal acontecem.

Philippe Derblay é um dos mocinhos mais apaixonados e apaixonantes que eu tive o prazer em ler. Muito honesto e sincero, embora não consiga, antes do casamento, se declarar para Claire, ele fala quase sem nenhuma reserva sobre os seus sentimentos por ela ao amigo tabelião. Sente-se inferior à amada, e em alguns momentos o achei muito semelhante a outro mocinho adorado da literatura, Mr. Thornton (Margaret Hale/Norte e Sul, Elizabeth Gaskell).

“– Estamos a sós pela primeira vez – disse Philippe num tom de voz quase sussurrado, – e gostaria imensamente de abrir meu coração para você. Até agora não ousei falar, por receio de não conseguir expressar corretamente meus sentimentos. Por muito tempo só me dediquei ao trabalho, por isso peço que tenha paciência. Acredite, as minhas palavras não fazem jus ao que sinto. Não foram poucas as vezes que deve ter percebido que eu me atrapalho com as palavras quando chego perto de você, e, por isso, acabo me calando. Sempre tive receio de parecer muito ousado ou muito tímido. Este medo me paralisava. E, assim, eu me contentava em ouvi-la; e a sua voz parecia música aos meus ouvidos. Eu me esquecia de tudo enquanto a observava andando pelo terraço à luz do sol. Na minha mente era só você e acabei me apaixonando perdidamente. Você se tornou meu único pensamento, a minha esperança, a minha vida… E agora, veja só a minha alegria ao vê-la aqui, perto de mim, toda minha!”

 

“Enquanto as mãos trêmulas do poderoso magnata prendiam o colar de brilhantes ao redor do pescoço da sua esposa, seus dedos resvalaram a pele alva e macia, e ele notou que ela estremeceu ao toque.

– Vamos, vamos – incitava a baronesa, – um dia como este pede um beijo…

E nisso empurrou Claire para os braços de Philippe. Ele empalideceu, e com os olhos embaçados e a garganta seca pela emoção, sentindo que estava prestes a desmaiar, ele tocou a testa da esposa com os lábios e deu um beijo frio, mas ao mesmo tempo demorado. Então como se temesse não conseguir se manter firme, se afastou e deixou a sala num rompante.”

 

Amor e Orgulho é um romance inesquecível. Com uma trama de vingança maquiavélica semelhante, em parte, à Senhora, de José de Alencar, o livro também consegue nos conquistar pela narrativa de um amor verdadeiro, provando que é possível, sim, um coração renascer das sombras da desilusão.

A Pedrazul Editora ainda não disponibilizou, até o presente momento, a pré-venda de Amor e Orgulho, mas o livro está previsto na grade de lançamentos da editora. Caso você queira ler Amor e Orgulho, basta manifestar o interesse pelo e-mail contato@pedrazuleditora.com.br (eu já fiz porque quero esse livro na minha estante pelo-amor-de-Deus). Garanto que não vai se arrepender! O livro de Georges Ohnet agrada tanto aos fãs de clássicos, quanto aos leitores de romance de época.

 

 

SOBRE O AUTOR: Georges Ohnet nasceu em Paris em 3 de abril de 1848 e morreu em 1918. Foi fã de George Sand e sua popularidade era tão interessante quanto suas histórias. Fez grande sucesso na Europa na segunda metade do século XIX, best-seller de seu tempo. Nasceu em uma família burguesa rica. Filho de um arquiteto, ele estudou leis e advogou por algum tempo, mas foi atraído pelo jornalismo e pela literatura. Foi editor dos jornais Le Pays e Le Constitutionnel. O único romancista francês cujos livros têm uma circulação que se aproxima das obras de Daudet e de Zola. Suas obras possuem paixões complexas. Foi essa a qualidade que o tornou um dos mais lidos escritores de seu tempo. Além de Amor e Orgulho, são dele: A Senhora Condessa (1882); Lise Fleuyon (1884); As Senhoras de Croix-Mort (1886); O Dr. Rameau (1889); O Dia Após o Amor (1893); A senhora de Cinza (1895); O Rei de Paris (1898); O Crepúsculo (1901); A Marcha ao Amor (1902) e muitos outros.

 

P.s.: Pesquisando sobre o livro e suas várias adaptações, encontrei um filme de coprodução espanhola e italiana da obra de Georges Ohnet, com o títlulo “Fhilippe Derblay: o Amor y Orgullo” (1959). Veja abaixo (em espanhol, sem legendas, mas dá para ter uma boa visão do romance):

 

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Elisabete Finco
21 de março de 2018 12:21

Também estou lendo e amando!! Obrigada por sua pesquisa, amei saber do filme ♥ A sua resenha tá perfeita com o que li da história até agora. Vou terminar a leitura pra conversamos sobre ela. ❤

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Ademir Carneiro
21 de março de 2018 12:48

Adorei seu texto resenha, é uma narrativa atemporal, onde os valores morais e sociais de classes distintas ditam as regras. Uma leitura fluida e que prende nossa atenção do início ao fim.

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Maju Raz
21 de março de 2018 12:49

Capa linda! Show de lançamento. Adorei a resenha! Parabéns pelo blog! Sucesso! Abração

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Michelle
21 de março de 2018 19:01

Apaixonada por essa capa!!! Quero muito na minha estante!!!!!

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[…] um dos melhores que eu já li até hoje, de tão viciante. Quer saber mais? Falei sobre a história aqui no blog, confira! Reserve o seu exemplar de Amor e Orgulho neste link (você não vai se arrepender, […]

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[…] Amor & Orgulho, de Georges Ohnet […]

Conceição Aparecida Araújo Oliveira
Conceição Aparecida Araújo Oliveira
27 de maio de 2019 12:55

Fico feliz em ver que esse livro consegue agradar à geração atual. Eu o li há muitos anos e ele já era considerado um pouco fora de moda. Mas uma boa história nunca perde seu valor. Nas edições antigas, ele se chamava “O grande industrial”. Recentemente, eu o reli em francês (Le maître des forges) disponibilizado pelo site” La Bibliotèque Électronique du Québec”. Não sabia que havia uma nova edição em português. Vou comprá-lo certamente.
Parabéns pela sua resenha. Perfeita!

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