[RESENHA] DIÁLOGOS IMPOSSÍVEIS

Capa Dialogos impossiveis.ai

Sinopse: “Qual um existencialista dotado de senso de humor, Verissimo persegue em suas crônicas o absurdo que marca a existência humana – salvo engano, a única que se preocupa com o seu propósito, o seu término e se alguém está falando demais na hora do pôquer. Em nenhum momento essa maldição se torna mais evidente do que na hora em que o homem abre a boca. Então, o que era para comunicar acaba é “estrumbicando”. Tais constatações podem ser verificadas em seu novo livro, Diálogos impossíveis, seja no diálogo imaginário de Don Juan tentando seduzir a própria Morte ou na conversa cotidiana de um casal que se desentende na hora de dormir. Tanto faz. O homem – e, sejamos igualitários, a mulher – parece falar o que não deve e calar no fundamental. Para sorte do leitor, Verissimo está sempre por perto, registrando os hilariantes momentos em que o ser humano exerce sua vocação para a confusão.”

 

Imagine um marido que tem como consultor financeiro o ursinho de estimação da mulher. O diálogo entre Drácula e Batman, já velhinhos em um asilo. Uma conversa sobre os bolsos de um defunto. E, o melhor de todos, na minha opinião, o diálogo entre Abraão e Isaque, muitos anos depois de Deus mandar o pai imolar seu único filho. Seriam diálogos impossíveis, não fosse o talento inquestionável de Luiz Fernando Veríssimo para nos entreter com suas crônicas.

O livro Diálogos Impossíveis é uma reunião de crônicas de Luiz Fernando Veríssimo, publicadas nos jornais O Estado de São Paulo e Zero Hora, lançado em 2012 e vencedor do Prêmio Jabuti em 2013, na categoria Melhor Livro do Ano de Ficção. Escolhi este título para o Desafio Corujesco de fevereiro pois sabia que seria uma leitura rápida e agradável. Não é à toa que o autor é um dos cronistas mais respeitados do país, nós podemos passar horas e horas lendo as suas crônicas sem cansar ou querer fazer outra coisa. Gostei bastante deste livro e quero procurar outros títulos de Luiz Fernando Veríssimo para ler ocasionalmente.

 

“– Não somos muito diferentes – diz Drácula.

– Somos completamente diferentes! – rebate Batman. – Eu sou o Bem, você é o Mal. Eu salvava as pessoas, você chupava o seu sangue e as transformava em vampiros como você. Somos opostos.

– E no entanto – volta Drácula com um sorriso, mostrando os caninos de fantasia – somos, os dois, homens-morcegos…

Batman come o resto do seu iogurte sob o olhar cobiçoso do conde.

– A diferença é que eu escolhi o morcego como modelo. Foi uma decisão artística, estética, autônoma.

– E estranha – diz Drácula. – Por que morcego? Eu tenho a desculpa de que não foi uma escolha, foi uma danação genética. Mas você? Por que o morcego e não, por exemplo, o cordeiro, símbolo do Bem? Talvez o que motivasse você fosse uma compulsão igual à minha, disfarçada. Durante todo o tempo em que combatia o Mal e fazia o Bem, seu desejo secreto era de chupar pescoços. Sua sede não era de justiça, era de sangue. Desconfie dos paladinos, eles também querem sangue.”

(p. 11)

 

 

Título: Diálogos Impossíveis
Autor: Luiz Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Páginas: 176

 

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