[RESENHA] ENCLAUSURADO, DE IAN McEWAN

[RESENHA] ENCLAUSURADO, DE IAN McEWAN

Sinopse: “O narrador deste livro é nada menos do que um feto. Enclausurado na barriga da mãe, ele escuta os planos da progenitora para, em conluio com seu amante — que é também tio do bebê —, assassinar o marido. Apesar do eco evidente nas tragédias de Shakespeare, este livro de McEwan é uma joia do humor e da narrativa fantástica. Em sua aparente simplicidade, ”Enclausurado” é uma amostra sintética e divertida do impressionante domínio narrativo de McEwan, um dos maiores escritores da atualidade.”

 

Em Enclausurado, o escritor britânico Ian McEwan faz uma releitura moderna e inusitada de Hamlet, de Shakespeare. No entanto, o narrador da história, aqui, ainda não nasceu. E esse pequeno detalhe faz toda a diferença na história.

 

“Deus, eu poderia viver enclausurado dentro de uma noz e me consideraria um rei do espaço infinito não fosse pelos meus sonhos ruins.” Shakespeare, Hamlet. (epígrafe)

 

Trudy envolve-se em um tórrido caso extraconjugal com seu cunhado, Claude. O marido, duplamente traído, John Cairncross, é um poeta decadente e apaixonado pela esposa. E também o herdeiro único de um imóvel que vale alguns milhões em dinheiro. No meio disso tudo, mais precisamente dentro da barriga de Trudy, o nosso narrador descobre detalhes sobre o mundo, a humanidade, e os planos nada ortodoxos de sua mãe e seu tio para se apoderarem do bem mais precioso da família Cairncross: o imóvel.

 

“No meio de uma noite longa e serena, posso sapecar um bom pontapé em minha mãe. Ela acorda, perde o sono, liga o rádio. Uma maldade, eu sei, mas estamos os dois bem informados pela manhã.” (p. 12)

 

“Vejamos. Minha mãe preferiu o irmão de meu pai, traiu seu marido, arruinou seu filho. Meu tio roubou a mulher de seu irmão, enganou o pai de seu sobrinho, insultou gravemente o filho de sua cunhada. Meu pai é indefeso por natureza, como eu sou por circunstancias.” (p. 40)

 

“Deus disse: que seja feita a dor. E depois se fez a poesia.” (p. 53)

 

“Certos artistas, escritores ou pintores, florescem em espaços confinados como bebês em gestação. Seus temas estreitos podem desconcertar ou desapontar algumas pessoas (…) Alguns escritores de prosa cuidam apenas de seus egos. Também no campo científico há quem dedique a vida a um caramujo albanês ou a um vírus. Darwin consagrou oito anos às cracas. E mais velho e mais sábio, às minhocas. Milhares de pesquisadores passaram a vida correndo atrás do bóson de Higgs, uma coisinha de nada. Estar circunscrito a uma casca de noz, ver o mundo em cinco centímetros de marfim, num grão de areia. Por que não, quando toda a literatura, toda a arte e a iniciativa humana não passam de uma partícula no universo das coisas possíveis? E mesmo esse universo pode ser uma partícula numa infinidade de universos reais ou possíveis?” (ps. 69,70)

 

Descobri, com essa leitura, que poetas nunca trancam o carro, e também que você pode conhecer uma pessoa por dentro, conhecer suas vísceras e as alterações de seus batimentos cardíacos e, ainda assim, não conhecê-la de fato ou entender suas motivações. Enclausurado é o tipo de livro que te prende até a última palavra, não só por ser um livro de suspense, mas por ser visivelmente bem trabalhado. O resto é o caos.

 

Tirei até uma selfie com o livro. Não me peça para explicar as minhas loucuras.

 

 

SOBRE O AUTOR: Ian McEwan nasceu em Aldershot, Inglaterra, em 1948. É um dos ficcionistas mais importantes de sua geração. Seus livros já lhe renderam uma série de prêmios literários, entre eles o Man Booker Prize e o Whitbread Award. Dele, a Companhia das Letras já publicou Reparação, Na Praia e A Balada de Adam Henry, dentre outros.

 

Título: Enclausurado
Autor: Ian McEwan
Tradução: Jorio Dauster
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 200

Compre na Amazon: Enclausurado.

Leia um trecho clicando aqui.

 

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[…] outubro, fiquei boquiaberta (mais uma vez) com a qualidade do texto do Ian McEwan em Enclausurado. Um suspense inspirado em Hamlet, de Shakespeare, para ninguém botar defeito, especialmente […]

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