[RESENHA] BELINDA, DE MARIA EDGEWORTH

[RESENHA] BELINDA, DE MARIA EDGEWORTH

Sinopse: “Mrs. Stanhope fez de tudo até conseguir que a dama mais elegante e influente de Londres, a notória viscondessa lady Delacour, convidasse sua última sobrinha solteira para passar uma temporada com ela. A esperança de Mrs. Stanhope era de que Belinda conseguisse, como suas demais primas, um bom e rico marido. A jovem, então, é jogada num intenso tumulto social e acaba se envolvendo nos conflitos familiares da aristocrática família Delacour. Enquanto a belíssima lady Delacour tenta chamar para si a atenção de Mr. Clarence Hervey e de outros cavalheiros, com artimanhas e coquetismo, vivendo uma rotina de glamour e dissipação, ela enfurece o marido, lorde Delacour, causando uma tragédia.

Em meio à agitada vida social de bailes e recepções, o coração da jovem Belinda é tocado por Mr. Hervey, mas ele está comprometido. Resta a Belinda se casar com Mr. Vincent, o protegido da sóbria família Percival. Belinda é a envolvente história de uma jovem forte e sensata, que luta para manter sua integridade, mesmo estando sob a tutela de uma dama fútil e inconsequente.”

 

“E enquanto o talento do nongentésimo compilador da História da Inglaterra ou do homem que reúne e publica num livro algumas dúzias de linhas de Milton, Pope e Prior, com um artigo do Spectator, e um capítulo de Sterne, é elogiado por mil plumas, há um desejo quase universal de vilipendiar e desvalorizar o trabalho do romancista, e rebaixar obras que têm apenas o gênio, a inteligência e o bom gosto para recomendá-las. ‘Não sou um leitor de romances… Raramente folheio romances… Não vá imaginar que leio muitos romances… Para um romance está muito bom.’ Esta é a cantilena de sempre. ‘E o que anda lendo, senhorita?’ ‘Ah! É só um romance!’, responde a mocinha, enquanto larga o livro com afetada indiferença ou momentânea vergonha. ‘É só Cecilia ou Camila ou Belinda’; ou, em suma, só alguma obra em que se exibem as maiores faculdades do espírito, em que o mais completo conhecimento da natureza humana, o mais feliz traçado de suas variedades, as mais vivas efusões de inteligência e humor são oferecidos ao mundo na linguagem mais seleta.”

 “Aquele que, homem ou mulher, não sente prazer na leitura de um bom romance deve ser insuportavelmente estúpido.”

AUSTEN, Jane. A Abadia de Northanger. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2012. p. 42 e 129.

 

O fragmento acima foi responsável por me apresentar o título Belinda, de Maria Edgeworth, publicado há algum tempo pela Pedrazul Editora. Em A Abadia de Northanger (1818), Jane Austen nos presenteou com uma de suas mais adoráveis protagonistas, a ingênua Catherine Morland: uma leitora voraz, especialmente de romances góticos como Os Mistérios de Udolpho. Com sua ironia característica, Austen faz uma espécie de paródia dos romances góticos, sobretudo os de Ann Radcliffe, e defende a leitura de romances, conforme visto acima. E a autora estava certa: o que pode ser melhor que a leitura de um bom romance? Livro técnico algum é capaz de elevar o nosso espírito da mesma forma que as páginas de uma boa ficção.

Ao terminar a leitura de A Abadia de Northanger, o leitor curioso vai logo em busca de Udolpho, que eu, inclusive, recomendo muitíssimo. Entretanto, depois das aventuras de Emily, temos a necessidade de prosseguir com a lista de recomendação de Jane Austen. E o próximo livro da lista disponível em português, é Belinda.

 

 

Publicado originalmente em 1801, Belinda é o tipo de livro que, embora retrate uma época há muito tempo ultrapassada, ainda pode nos ensinar muita coisa sobre como é a vida em sociedade. A mocinha, uma jovem ingênua — porém bastante sensata — que é posta junto a uma experiente dama da sociedade, a fim de aprender algumas coisas com ela e, com sorte, conseguir um valioso casamento, é uma pessoa capaz de nos mostrar sutilezas de uma vida não tão diferente da nossa, no século XXI. As afetações, amizades falsas, pessoas inconsequentes e levianas presentes em Belinda poderiam muito bem estar entre nós, neste mundo louco em que vivemos. E precisaríamos ser tão firmes e determinados como a protagonista para não cair nas armadilhas dos joguetes sociais.

O enredo de Belinda é muito rico: ao colocar uma protagonista iniciante na alta sociedade, Maria Edgeworth mostra mais que os dilemas da mocinha em relação aos seus pretendentes em contraponto aos seus valores morais. Há aqui, em como todo bom clássico, sobretudo inglês, aquela crítica à futilidade dessa camada abastada da sociedade e seus costumes mesquinhos e, porque não, bastante tóxicos. A sociedade de aparências é um ponto marcante em Belinda desde o início. São muitas as sutilezas que formam a trama principal, tornando o livro uma leitura bastante enriquecedora.

 

 

Confesso que as personagens femininas e suas tramas foram o que mais me chamaram atenção em Belinda. Tirei muitas lições dos diálogos e situações vividas pela protagonista e também pelas personagens secundárias.

“Que tesouro é encarar tudo com um coração novo! Todos os corações, hoje em dia, são de segunda mão, na melhor das hipóteses.” (p. 16)

 

“Nunca é tarde demais para as mulheres mudarem de ideia, de roupa, ou de amantes.” (p. 19)

 

“Siga o meu exemplo, Belinda: encontre seu caminho através de cotoveladas na multidão. Se você parar para ser civilizada e pedir desculpas, e ‘espero não tê-lo machucado’, será pisoteada.” (p. 27)

 

“O que eu sofro em privado é conhecido apenas pelo meu coração.” (p. 64)

 

Belinda não é uma leitura exatamente fácil: aqui temos alguns períodos longos de um texto delicioso, porém um pouco rebuscado. No entanto, vale a pena cada página! Percebemos o belo trabalho realizado com a edição, bem traduzida e enriquecida com as ilustrações originais, além de termos acesso pela primeira vez em português a um texto adorado por ninguém menos que Jane Austen. Recomendação melhor não há!

 

 

 

Título: Belinda

Autora: Maria Edgeworth

Tradução: Bianca Costa Sales

Páginas: 452

Editora: Pedrazul

 

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