[RESENHA] COM OUTROS OLHOS, DE THATI MACHADO

Sinopse: “A vida perfeita de aparências da jovem Lana se desfaz como pó depois de um trágico acidente com seu então namorado Lucas. Destinada a ultrapassar todos os obstáculos que a vida lhe impõe, Lana ingressa na Companhia Raoul de Teatro – com a ajuda de seu irmão – sem que saibam das suas limitações. Seus companheiros de trabalho parecem não facilitar a vida da moça, principalmente Arthur, que interpreta seu par romântico na peça. Ironia do destino ou não, Lana vai descobrir que uma vida sem luz ainda pode lhe oferecer tudo que uma garota sempre sonhou. E que as aparências… Sempre enganam.”

 

Emendei a leitura de Com Outros Olhos tão logo li as últimas palavras de Contando Estrelas, aproveitando a gentileza da autora, Thati Machado, de me enviar os dois e-books. Mais uma vez, surpreendo-me com uma temática que não tenho por hábito ler com frequência, mas que, prometo, vou prestar mais atenção.

Na leitura de Contando Estrelas, conheci superficialmente a irmã de Leo, Lana, que perdeu a visão em um acidente de trânsito que sofrera com o namorado, Lucas. O rapaz estava alcoolizado e a imprudência dos dois, especialmente a dele, fez com que a vida de Lana virasse de cabeça para baixo repentinamente. Após o acidente, Lucas, que saíra ileso, abandona a namorada quando esta vivia o seu momento de maior fragilidade. Ela aprende a viver sem enxergar, mas as cicatrizes mais difíceis de curar estão em seu coração.

Lana consegue entrar em uma badalada companhia de teatro, a Companhia Raoul, e para sua surpresa, consegue o papel de Julieta na montagem do clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare! O detalhe é que embora o diretor saiba de sua deficiência, nenhum de seus outros colegas sabe, ou tem certeza. Com a ajuda de Leo, ela vai ao teatro sem sua bengala e se esforça para parecer o mais normal possível.

Na companhia de teatro, entretanto, havia uma pessoa que conhecia a nossa protagonista de antes do acidente: Arthur. O jovem, que outrora nutria sentimentos por Lana e fora rejeitado por ela, atuaria como Romeu na peça. Ele, não sabendo o rumo que a vida de Lana tomou, não facilita em nada o trabalho da jovem no teatro. Uma mistura de sentimentos envolve os dois, um magnetismo que os une como um irremediável casal, embora tentem resistir.

 

 “Senti um arrepio estranho e um tanto avassalador. Prendi a respiração. A respiração dele, no entanto, estava quente e arfante próxima ao meu pescoço. Aquele sujeito estava me cheirando. Fungando em meu cangote como se eu fosse sua presa. Eu podia me sentir acuada, mas resolvi jogar o seu jogo. Aproximei-me de seu pescoço e senti seu cheiro. Era forte e autêntico, talvez também houvesse a lembrança de um suor salgado junto à essência… Não era ruim, de maneira nenhuma. Tive vontade de lamber seu pescoço e em seguida mordê-lo. Contive-me graças à voz de Julie que ordenou que nos afastássemos e retirássemos nossas vendas. Retiramos. Todos voltaram a enxergar. Exceto eu.”

 

Ler sobre personagens que geralmente são postos a margem da sociedade, e, por conseguinte, da literatura, é engrandecedor. A capacidade de empatia que nós leitores conseguimos adquirir com essas histórias abriu-me os olhos para buscar por mais leituras assim. Posso afirmar, embora esteja dizendo algo óbvio, que não houve nenhum prejuízo em relação ao romance e às sensações que buscamos em uma história de amor.

 

“Fazia um tempo que eu não era beijada. Mas fazia uma vida inteira que eu não era beijada daquela forma.”

 

Além do romance entre Lana e Arthur, que foi belamente escrito pela Thati Machado, e a protagonista da história lidando com situações inimagináveis para quem possui a visão perfeita, o ponto alto de Com Outros Olhos foi uma de suas cenas finais, o confronto cara a cara entre Lana e Lucas. Ele, tentando uma reconciliação agora que Lana recuperou-se psicologicamente, chama-nos atenção para uma característica física de Arthur. Não vou falar qual é, mas foi um susto para Lana, um susto para mim e, acredito, para boa parte dos leitores. Ponto positivo para a autora que, sutilmente, mostra como o preconceito está mais enraizado do que pensamos, até em pessoas que, supostamente, não são preconceituosas.

 

“É irônico precisar perder a visão para só então começar a enxergar certas coisas, você não acha?”

 

Lana era uma garota popular, com um namorado popular e, embora tivesse um irmão gay e estivesse tranquila com a orientação sexual dele, não era uma pessoa tão legal assim. Precisou passar por uma situação traumática para poder enxergar a vida com outros olhos. E com essa história eu aprendi muito. Recomendo!

 

 

 

Título: Com Outros Olhos
Autora: Thati Machado
Editora: Publicação Independente / Amazon
Páginas: 62

 

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Saiba mais sobre a autora visitando o blog Nem Te Conto.

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[…] abril eu li, por meio de parceria, dois livros da autora Thati Machado: Com Outros Olhos e Contando Estrelas. Foram leituras ótimas, que me fizeram sair da minha zona de conforto e […]

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[…] primeiro contato com a Thati (sou fã, portanto me considero íntima), foi com os contos ficcionais Com outros olhos e Contando estrelas, que eu amei e recomendo muito a leitura. Depois disso passei a acompanhar a […]

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