[RESENHA] ELENA FERRANTE, UMA LONGA EXPERIÊNCIA DE AUSÊNCIA, DE FABIANE SECCHES

[RESENHA] ELENA FERRANTE, UMA LONGA EXPERIÊNCIA DE AUSÊNCIA, DE FABIANE SECCHES

 

Sinopse: “O livro “Elena Ferrante, uma longa experiência de ausência” acompanha os caminhos da misteriosa escritora italiana, desde a escolha do pseudônimo até a publicação de seu último romance. Ferrante é autora de algumas das obras mais lidas e comentadas dos últimos trinta anos. Com cerca de 12 milhões de exemplares vendidos, foi traduzida para mais de 50 países e se tornou um fenômeno mundial. Mais do que o mistério em torno da figura da autora, o que tem intrigado leitoras e leitores de todo o mundo são os mistérios propostos por sua obra, que Fabiane Secches, pesquisadora e crítica literária, busca esmiuçar nesse livro pioneiro sobre a autora no Brasil. A obra mais célebre de Ferrante, a tetralogia napolitana, inspirou a série “My brilliant friend”, exibida aqui pela HBO, que está atualmente em sua segunda temporada. Nesse livro, as leitoras e os leitores de Ferrante poderão retornar aos seus primeiros romances (“Um amor incômodo”, “Dias de abandono” e “A filha perdida”), revisitar a complicada amizade de Elena Greco (Lenu) e Rafaella Cerullo (Lila) da tetralogia, sondar o último livro publicado por Ferrante (“A vida mentirosa dos adultos”, ainda inédito no Brasil) e acompanhar uma reflexão pormenorizada quanto aos temas e procedimentos de escrita da autora italiana. A comoção causada por seus livros, apelidada de “Febre Ferrante”, também inspirou um capítulo à parte deste livro, que reúne comentários de diversos escritores, editores, críticos literários, psicanalistas, professores, pesquisadores e outros pensadores, que buscam analisar aspectos diferentes da obra de Ferrante. O livro de foi ilustrado pela artista Talita Hoffmann -em suas páginas, entre outras imagens, estão dois mapas coloridos traçados a partir do percurso das personagens da tetralogia napolitana.”

 

Minha história com Elena Ferrante começou com o episódio “The Dolls”, o primeiro da primeira temporada de “My Brilliant Friend”, série da HBO. Eu já havia lido o nome da autora aqui e ali, mas não sabia absolutamente nada sobre ela ou sua obra. ⠀⠀

Nesse episódio, quando Lila joga a boneca de Lenu em um buraco e Lenu faz o mesmo com a boneca de Lila, dizendo “o que você faz eu também faço”, eu senti uma vontade enorme de ler “A Amiga Genial”. Se pudesse, teria começado naquele mesmo momento! Deixei de acompanhar a série para ler pelo menos este primeiro livro da Tetralogia Napolitana. Fui em busca dos livros de Ferrante na internet e comprei não só a tetralogia, mas todos os livros dela que haviam sido publicados no Brasil até aquele momento. A medida que fui lendo as sinopses e me inteirando sobre o que se tratavam os romances foi impossível não desejar ler todos os livros, um após o outro. Uma aposta arriscada (e um pouco cara), eu sei, mas valeu muito a pena. Viajei nas primeiras semanas de janeiro de 2019 e, quando cheguei, havia uma caixa de livros da Elena Ferrante me esperando na casa da minha sogra.

Ter lido Elena Ferrante, toda a obra dela, sobretudo a tetralogia, foi um verdadeiro marco na minha vida de leitora. “A Amiga Genial” tornou-se o meu livro favorito; Elena Ferrante, A autora favorita. Desde então tenho buscado ler mais e mais literaturas que me aproximem desse universo, que projeta e reflete tão bem aquilo que, por vezes, temos vergonha até de pensar. É até difícil explicar, mas quem já leu sabe. E quem ainda vai ler, vai descobrir (é disso que falamos, quando usamos o termo “Febre Ferrante”).

O livro de Fabiane Secches, “Elena Ferrante, uma longa experiência de ausência” (Claraboia, 2020), me fez retornar a esse ponto de partida, a esse deslumbramento inicial com Ferrante, mas mostrando as nuances que a primeira leitura apressada, irresistível, geralmente não nos permite perceber. Além disso, a autora apresenta a obra de Ferrante sob a ótica da Psicanálise e da Literatura Comparada, um verdadeiro aprendizado, além de grande deleite. É como se as leituras anteriores tivessem deixado várias pontas, acumulando vários novelos e Fabiane Secches viesse fazer não somente o arremate, mas a revisão de cada ponto, de cada carreira dessa peça gigante que é a obra de Elena Ferrante.

 

“Embora a escrita de Ferrante nos dê a impressão de que a leitura fluirá sem dificuldades, talvez seja com as nossas dificuldades internas que acabaremos nos confrontando. Freud dizia que, durante o percurso analítico, estaríamos nos dispondo a acordar demônios que habitam nosso subsolo, a vivenciar uma jornada sem garantias. E Kafka, que um bom livro é aquele que funciona como um machado capaz de partir os mares gelados de nossa alma. Parecem boas imagens para ilustrar a experiência de ler Elena Ferrante.”


“Elena Ferrante, uma longa experiência de ausência” é leitura indispensável, fascinante, obrigatória. Não posso deixar de destacar aqui as ilustrações da Talita Hoffmann e todo o trabalho de edição da Editora Claraboia. O livro é perfeito em todos os sentidos, papel, fonte, texto bem escrito e revisado, boa capa… Vale a pena, tanto o impresso quanto o e-book (mas sugiro o impresso).

Título: Elena Ferrante, uma longa experiência de ausência
Autora: Fabiane Secches
Ilustrações:  Talita Hoffmann 
Editora: Claraboia
Páginas: 288
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