[RESENHA] JANE EYRE, FILME DE ROBERT STEVENSON (1943)

[RESENHA] JANE EYRE, FILME DE ROBERT STEVENSON (1943)

 

Jane Eyre é uma adaptação para o cinema do romance homônimo de Charlotte Brontë, produzida em 1943, estrelada por Orson Welles (Cidadão Kane, 1941) e Joan Fontaine (Oscar de melhor atriz por Suspeita, 1941).

Adaptar um romance de tão grande tamanho e importância como Jane Eyre não deve ser tarefa fácil! Mesmo tendo um escritor renomado como Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo, livro de 1932) entre os roteiristas, muita coisa fica de fora ou é substituída por algo mais adequado, fato que acontece nesta adaptação dirigida por Robert Stevenson. Para os mais apegados ao livro, essa adaptação não é das melhores no quesito fidelidade. Mesmo sendo um filme rodado em preto e branco (o que é de um charme irresistível) e tendo uma trilha sonora que não deixa que desgrudemos da tela, algumas coisas incomodam.

Primeiramente, o longa se chama Jane Eyre, mas o destaque é todo de Orson Welles. A grande estrela do filme é ele, e isso é informado logo na abertura, mas todo esse brilhantismo acaba por ofuscar nossa querida Jane de Joan Fontaine. Consta que Mr. Welles frequentemente chegava atrasado ao set de filmagem e sua chegada triunfal era composta de um séquito de empregados, dentre eles uma secretária! Robert Stevenson assinou como diretor, mas na realidade era Welles quem dava as cartas nas gravações.

 

 

Joan Fontaine, creio eu, era bela demais para o papel. Sua Jane chegava a ser angelical em determinados momentos; diferente de seu retrato enquanto criança, vivido pela atriz Peggy Ann Garner. O espírito livre de Jane Eyre adulta ficou lá no livro de Charlotte Brontë… Imagino que isso se deve por ser uma adaptação feita em 1943. É sempre bom lembrar que um livro clássico ou, como neste caso, a adaptação cinematográfica de um clássico, foi feita na e para a época. Mesmo as histórias que conseguem romper as barreiras do tempo têm suas limitações. Um filme feito por homens em 1943 não poderia transmitir, mesmo se eles quisessem, toda a liberdade de pensamento e independência de Jane Eyre. Em uma das cenas mais sem noção desse longa, quando Jane deixa Lowood, ela espera por algum enviado de Thornfield em uma estalagem e um senhor lhe oferece uma taça de vinho, no pior estilo safadinho que existe. Jane, obviamente recusa e quando vai embora recebe uma piscadela indecente do referido senhor. A cena chega ser cômica de tão ridícula! Imagino se a intenção dos roteiristas não seria mostrar às senhoras da plateia o quanto poderia ser perigoso enfrentar uma viagem sozinha. Um ato de independência que foi retratado de forma risível. Uma pena. Destaco como a melhor cena de Fontaine a declaração de amor para Mr. Rochester. Um dos diálogos mais intensos já escritos, que foi adaptado de forma emocionante.

 

“O senhor pensa que por eu ser pobre, sombria, simples e pequena, não tenho alma ou coração? Se pensa, está enganado! Tenho tanta alma quanto o senhor. E um coração ainda maior! E se Deus me tivesse presenteado com alguma beleza, e mais riqueza, eu tornaria tão árduo para o senhor deixar-me o quanto me é árduo deixá-lo agora.” (retirado do livro Jane Eyre, edição do ano de 2014, Editora Martin Claret)

 

 

No mais, é uma adaptação que merece ser vista, principalmente pelos admiradores do romance de Charlotte Brontë! Aqui Jane também narra a sua história, como se estivesse lendo para nós o seu diário: “Meu nome é Jane Eyre… Nasci em 1820…”. Sua infância foi retratada rapidamente e logo somos transportados a Thornfield, com Mr. Rochester. Apesar de sentir que a história ficou um pouco desvirtuada, gostei do Rochester de Orson Welles. Ele imprimiu força e sombriedade necessárias ao personagem. Só não me convenceu muito nas cenas românticas com Fontaine. Não é a melhor adaptação para o cinema, como diz a contracapa do DVD, mas é uma bela adaptação, principalmente para os amantes do cinema em preto e branco.

 

 

Ficha Técnica

Título: Jane Eyre.

Ano: 1943.

Roteiro: John Houseman, Aldous Huxley e Robert Stevenson, baseado no romance homônimo de Charlotte Brönte.

Direção: Robert Stevenson.

Elenco: Orson Welles e Joan Fontaine; com Margareth O’Brien, Peggy Ann Garner e John Sutton.

 

 

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Jane_Eyre_(1943_film)

 

 

Resenha em colaboração com o blog Escritoras Inglesas.

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
0
Queremos saber a sua opinião, deixe um comentário!x