[RESENHA] LAZARILLO DE TORMES E O ROMANCE PICARESCO

[RESENHA] LAZARILLO DE TORMES E O ROMANCE PICARESCO

Sinopse: “Narrativa anônima do século XVI, Lazarillo de Tormes é um marco no panorama da literatura universal, sendo considerado o fundador do romance picaresco. Divertida e por vezes comovente, a história do garoto Lázaro e de sua luta pela sobrevivência possui também um alto teor de crítica social, o que faria com que o livro fosse proibido pela Inquisição.”

 

Lazarillo de Tormes é uma narrativa curta, clássico da literatura espanhola e mundial, que inaugurou o tipo de romance chamado de picaresco. De autoria desconhecida, tendo suas edições mais antigas datadas de 1554, a história de Lázaro é uma narrativa de leitura rápida e bem humorada.

O romance é estruturado em tratados — precedidos de um prólogo, — onde o próprio Lazarillo conta suas desventuras. Nascido no rio Tormes, motivo que, segundo ele, explica o seu sobrenome, ainda bem jovem perde o pai, precisa deixar a mãe e, de início, cai nas mãos de um cego, assumindo o ofício de ser os seus olhos. Em pouco tempo, o trabalho que parecia ser nobre torna-se bastante penoso: Lázaro passa fome e sofre maus tratos diversos com esse seu primeiro amo. A partir daí o personagem desenvolve a capacidade de se virar, de tirar proveito das situações mais extremas. O que pode parecer malandragem — e é, obviamente — também pode ser interpretado como pura questão de sobrevivência, com pitadas de vingança, em alguns casos.

Larazillo de Tormes foi uma leitura que eu não teria feito (pelo menos não neste ano de 2018) se eu não tivesse cursado a disciplina de Matrizes de Cultura e Literaturas Hispânicas, nesse semestre do curso de Letras (2018-2 UFF/CEDERJ). A leitura surgiu como uma proposta diferenciada de avaliação presencial: a coordenação da disciplina divulgou a questão única da prova, que seria a leitura de Lazarillo de Tormes (ou de A Celestina) e pediu para que fizéssemos uma comparação com outro produto cultural de livre escolha. No dia marcado para a prova presencial nós teríamos de dissertar sobre a nossa leitura e pesquisa, mas sem consulta.

A proposta, que a primeira vista me assustou, foi muito positiva. A leitura de Larazillo de Tormes foi muito agradável — por isso estou recomendando o livro aqui — e ter de pesquisar sobre o tema e pensar sobre algo semelhante tornou o estudo menos maçante e a aprendizagem mais efetiva. Foi uma prova de exposição de conhecimento, não de decoreba.

Lazarillo de Tormes, como já dito, inaugurou o romance picaresco, que é definido como uma pseudo-autobiografia de um anti-herói, em que ele narra suas aventuras, que por sua vez, são a síntese crítica de um processo de ascensão social pela trapaça. O romance picaresco é uma sátira da sociedade do pícaro, o protagonista.

Vários personagens da literatura e do cinema se enquadram nas características do pícaro. Em minha breve pesquisa, percebi semelhanças em Leléu, personagem de Lisbela e o Prisioneiro, filme de Guel Arraes (2003). Assim como Lazarilho, Leléu (interpretado por Selton Mello, foto acima) percorre cidades fazendo o possível (leia-se usando de artimanhas) para garantir o seu sustento, com a diferença de que, no caso do brasileiro, suas malandragens também incluem conquistas amorosas. Lisbela (Débora Falabella) e o Prisioneiro funciona muito bem como crítica de uma sociedade baseada em classes, além de outros temas que a adaptação trata de forma perfeita: metalinguagem, resposta ao ideal cavalheiresco — que também é uma característica do romance picaresco — dentre outros.

Comparações e pesquisas à parte, sugiro que você inclua em sua lista a leitura de Lazarillo de Tormes. O livro é um tesouro facilmente encontrado em livrarias e pela internet. Dificilmente você vai fechar o livro sem ter dado uma risada ou sem se surpreender com situações e pessoas que são facilmente identificáveis ainda nos dias atuais.

 

“Quantos devem existir no mundo que fogem dos outros porque não se veem a si mesmos!”

 

“Mas, segundo me parece, esta é uma regra já usada e observada entre eles. Embora não tenham um vintém, fazem questão do barrete no seu lugar. Que o Senhor os ajude, já que com esta doença morrerão.”

 

“Apesar de rapaz ainda, achei tudo uma graça e disse para mim mesmo: ‘quantas destas devem fazer estes enganadores às pessoas inocentes!’”

 

 

 

Título: Lazarillo de Tormes

Autor: Anônimo

Baixe gratuitamente a edição biligue da Embaixada Espanhola, fonte de leitura e informações dessa resenha, clicando aqui.

 

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