[RESENHA] LONGE DESTE INSENSATO MUNDO, DE THOMAS HARDY

Sinopse: “Bathsheba Everdene é espirituosa e expansiva demais para uma dama inglesa do século XIX. Antes uma simples camponesa, agora é herdeira de uma vasta propriedade rural em Weatherbury, mas seu temperamento independente e enigmático causa falatórios entre seus próprios empregados. Gabriel Oak, um fazendeiro que sofrera grandes perdas, é apaixonado por ela, mas a jovem tem outros pretendentes, o sedutor sargento Troy e o respeitável fazendeiro de meia-idade Boldwood. Ao mesmo tempo em que os destinos destes três homens dependem da escolha de Bathsheba, ela descobre as terríveis consequências do seu coração inconstante. Um romance de paixão, com descrições da vida rural e paisagens idílicas, apresenta ao leitor uma obra-prima com extrema honestidade sobre as relações sexuais.”

 

Longe deste insensato mundo é um romance escrito por Thomas Hardy, publicado originalmente em 1874, sendo já nesta época um Best-seller. Neste livro, Hardy usa pela primeira vez o cenário rural que criou para suas histórias, Wessex, retratando o sudeste da Inglaterra, que ele conhecia muito bem.

O livro narra a história de Bathsheba Everdene, uma jovem que no início da história é pobre, mas logo tem sua vida transformada ao receber a herança de um tio, tornando-se dona de uma vasta propriedade rural. Antes de se tornar fazendeira, ela é pedida em casamento por Gabriel Oak, mas recusa-o, pois não se vê feliz ao vislumbrar um casamento. Afirma não amá-lo e dá sinais de ainda não estar pronta para tal compromisso, o que, para época, poderia ser considerado um tremendo disparate.

“‘Farei uma única coisa nesta vida, uma coisa certa, que é amá-la e esperá-la, e continuar a desejá-la até morrer.’ A voz dele tinha uma compaixão genuína agora e suas grandes mãos tremiam perceptivelmente.

‘Parece assustadoramente errado não aceitá-lo quando você tem tanto sentimento!’, disse ela com um pouco de angústia, olhando ao redor sem esperanças de escapar de seu dilema moral. ‘Como gostaria de não ter corrido atrás de você!’ No entanto, ela parecia encontrar um atalho para reencontrar a alegria e ajustou seu rosto para parecer brejeira. ‘Não seria possível, Mr. Oak. Quero alguém que me dome. Sou independente demais. Você nunca conseguiria, sei disso.’” (p. 29)

 

Assumindo a posição de fazendeira, Bathsheba dá mais sinais de sua personalidade forte e independente, pois, ao demitir o administrador da fazenda por motivo de roubo, decide, ela mesma, cuidar da administração da propriedade. Apesar de ser um romance vitoriano, Hardy não escreveu sua protagonista seguindo os moldes da época. Miss Everdene não é um modelo de candura, e sim uma mulher forte, que comete erros e tem seus momentos de acerto, como todas nós. Encanta, neste livro, o realismo dos personagens, suas declarações e, claro, as belíssimas paisagens da Inglaterra rural.

“‘Agora prestem atenção, vocês têm uma patroa em vez de um patrão. Ainda não conheço o meu poder e meus talentos para a agricultura, mas devo fazer o meu melhor e se me servirem, servirei a vocês. Se houver alguém desleal entre vocês (se houver alguém, mas espero que não) achando que por eu ser uma mulher não entendo a diferença entre mau e bom comportamento.’

‘Não, dona’, disseram todos.

‘Muitíssimo bem observado’, disse Liddy.

‘Acordarei antes de vocês; estarei nos campos antes que cheguem e tomarei o meu desjejum antes que estejam nos campos. Resumindo, surpreenderei todos vocês.’”

 (p. 68)

 

Quando a protagonista pensou ter deixado sua antiga vida para trás, eis que surge novamente em sua vida Gabriel Oak. O homem ajudou os funcionários de Bathsheba a salvarem o trigo da fazenda que estava prestes a ser consumido em um incêndio. Tendo perdido sua propriedade, Oak torna-se funcionário de Bathsheba, no cargo de pastor de ovelhas. Com o desenvolvimento da história vemos uma relação de cumplicidade acontecer entre Gabriel e Bathsheba. Ele, mais que um homem apaixonado, dispõe-se a ajudar e a aconselhar a jovem sempre que é preciso. Fiquei encantada com o personagem, modelo de tudo o que uma mulher poderia desejar em um homem.

Miss Everdene, apesar de assumir um posto que demandava muita responsabilidade, era apenas uma jovem, e, como toda jovem, era dona de um coração inconstante. Além de Gabriel, ela despertou os sentimentos do respeitável fazendeiro de meia idade, Mr. Boldwood. A princípio, ele não a havia notado, mas, a partir de uma brincadeira com um cartão de dia dos namorados, ele apaixona-se perdidamente por Bathsheba.

 

“‘Oh, o fazendeiro Boldwood’, murmurou Bathsheba e olhou para ele enquanto este ia ainda mais rápido. O fazendeiro não virou a cabeça em nenhuma vez, seus olhos estavam fixos num ponto mais distante da estrada, que passou tão inconscientemente e distraidamente como se Bathsheba e seus encantos fossem o mais diluído ar.’” 

(p. 76)

 

“‘Sofro – muito – ao pensar’, declarou ele com simplicidade solene. ‘Venho conversar com você pela primeira vez. Minha vida não me pertence mais desde que a vi, Miss Everdene. Venho para pedir-lhe em casamento.’” (p. 103)

 

 

Em um esbarrão na mata de abetos, surge o Sargento Troy. Um encontro inusitado, após o entardecer entrelaça, literalmente, o destino dele e de Bathsheba. A roupa dela ficara presa na espada do oficial. Neste incidente, surgem os primeiros diálogos e uma tensão sexual entre os dois, principalmente da parte da jovem.

Troy é um sedutor por natureza, e consegue fazer com que Bathsheba perca o juízo. Nos dias atuais, ele certamente seria um flerte, ou um caso de uma noite só. Mas estamos no século XIX, Inglaterra Vitoriana, então desde a sua primeira aparição não é difícil imaginar o caos que o personagem será capaz de causar na vida da nossa protagonista e dos seus admiradores.

“‘Bathsheba amou Troy da maneira que somente as mulheres autoconfiantes amam quando abandonam sua autoconfiança. Quando uma mulher forte de forma imprudente joga fora sua força é pior do que uma mulher fraca que nunca teve força para jogar para fora. Uma fonte de sua inadequação é a novidade da ocasião. Ela nunca teve prática em fazer o melhor de tal condição. A fraqueza é duplamente fraca por ser nova.’” (p. 152)

 

“‘E os defeitos de Troy ficavam completamente distantes da visão de uma mulher, enquanto seus encantos estavam bem na superfície, contrastando assim com o humilde Oak, cujos defeitos eram evidentes a um cego e cujas virtudes eram como metais em uma mina.’” (p. 153)

 

Longe deste insensato mundo foi o primeiro livro que li de Hardy e, certamente, não será o último. Suas descrições na medida certa e seus personagens inconstantes e errantes tornaram-me a mais nova fã de carteirinha do autor. Vi que muitas pessoas criticam sua Bathsheba. Eu a amo justamente por ser uma mulher falha, que aprende com a vida e com as circunstâncias. Um romance inesquecível e uma das melhores leituras do ano.

 

Além de tudo o que falei acima, que é só uma parte da história para que o leitor da resenha não perca o prazer de surpreender-se com Longe deste insensato mundo, preciso dizer mais uma vez, pois quem me acompanha nas redes sociais já sabe, o quão maravilhoso foi ter esta que é a primeira edição dessa super história, em português, dedicada a mim. Serei eternamente grata à Pedrazul Editora pelo carinho comigo nesta edição.

 

 

 

Título: Longe deste insensato mundo
Autor: Thomas Hardy
Tradução: Ellen Bussaglia
Editora: Pedrazul
Páginas: 328

 

Compre no site da Pedrazul Editora e ganhe lindos marcadores:Longe deste insensato mundo.

 

Ouça a playlist da adaptação de 2015:

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Paula
Paula
17 de abril de 2017 16:11

Oi!
Estou já há algum tempo de olho neste livro, mas ainda não sabia direito qual era a história. Consegui ter um retrato possível da obra, e isso foi interessante. Tenho de dizer que já li uma obra de Thomas Hardy, Tess, e simplesmente adorei! Mas fora a edição de 1984, da Itatiaia, e não a da Pedrazul. Fico me perguntando se a tradução (e a linguagem utilizada) é muito diferente…
Do que li, a escrita de Hardy tem certo encanto e seus personagens não são “fechados” e mudam bastante no decorrer da história, o que é bacana, porque se torna verossímil. Pelo menos em Tess (que foi a obra que li dele). Fiquei curiosa para ler “Longe deste insensato mundo” agora.
Enfim, gostei de teu texto. ^^
Abraços.

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Salomão Sousa
11 de setembro de 2018 17:52

Parabens pela resenha! Lei Hardy desde a infância. Trata-se de autor realista inglês, onde os dramas humanos afloram com muita violência. Por isso, as mudanças abruptas no fio condutor da narrativa. Quem gosta de Hardy, gostará também de Hamsun. Seu blog é muito bonito e certamente contribui bastante para formação de leitores.
Depois quero lhe mandar um livro meu.

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[…] abaixo as melhores citações de Longe Deste Insensato Mundo, pois nem todas puderam ser postas na resenha que fiz do livro. Para ilustrar, as fotos são da adaptação cinematográfica de 2015, do diretor Thomas […]

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[…] Longe deste Insensato Mundo, primeiro título de Thomas Hardy que li, vai ser eternamente especial para mim. A Pedrazul Editora dedicou esta, que é a primeira edição desse livro em português, a minha humilde pessoa! Fiquei tão feliz, mas tão feliz, que mal tenho palavras para expressar. Só conhecia a história pelo filme protagonizado por Carey Mulligan e Matthias Schoenaerts, nos papeis de Batsheba Everdene e Gabriel Oak, que eu simplesmente adorei. É o tipo de história que amo e estava ansiosa pela publicação. Quando abri o pacote e percebi que o livro fora dedicado a mim, fiquei em êxtase! Depois de ler toda a história, fiquei ainda mais feliz, pois Longe deste Insensato Mundo é uma história incrível. […]

Keyllane Filgueira
Keyllane Filgueira
20 de maio de 2019 09:43

Ganhei o livro de presente há algum tempo, mas não tive muita coragem de ler! Li Tess e fiquei com o coração partido por algum tempo… mas depois da resenha fiquei animada pra ler!

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