[RESENHA] O MUNDO SE DESPEDAÇA, DE CHINUA ACHEBE

[RESENHA] O MUNDO SE DESPEDAÇA, DE CHINUA ACHEBE

 

Sinopse: Romance fundador da moderna literatura nigeriana, O mundo se despedaça narra a história de Okonkwo, guerreiro de um clã que se desintegra depois da chegada do homem branco e de suas instituições. Um dos mais importantes autores africanos da atualidade, Achebe recebeu o Man Booker International em 2007.
O mundo se despedaça conta a história de Okonkwo, guerreiro da etnia ibo, estabelecida no sudeste da Nigéria. O momento que a narrativa retrata é o da gradual desintegração da vida tribal, graças à chegada do colonizador branco. Os valores da Ibolândia são colocados em xeque pelos missionários britânicos que trazem consigo o cristianismo, uma nova forma de governo e a força da polícia. O delicado equilíbrio de costumes do clã atravessa um momento de desestabilização, pois os missionários europeus e seus seguidores, africanos convertidos, começam a acorrer às aldeias de Umuófia pregando em favor de uma nova crença, organizada em torno de um único Deus.
A nova religião contraria a crença nas forças anímicas e na sabedoria dos antepassados, em que acreditam os ibos. Além disso, os homens brancos trazem novas instituições: a escola, a lei, a polícia. Okonkwo, o mais bravo guerreiro do clã, é dos principais opositores dos missionários, mas ele não contava com a adesão à nova crença de muitos de seus companheiros.
O romance é considerado um dos livros mais importantes da literatura africana do século XX e fundador da moderna literatura nigeriana. Foi publicado originalmente em 1958, dois anos antes da independência da Nigéria. Primeiro romance do autor, foi publicado em mais de quarenta línguas.”

 

O mundo se despedaça, de Chinua Achebe é o romance africano mais lido do mundo. Vendeu milhões de cópias em dezenas de idiomas e é considerado o fundador da literatura nigeriana moderna. Publicado originalmente em 1958, pouco antes da independência da Nigéria, o romance é, de certa forma, uma resposta à representação quase sempre racista dos povos africanos em livros do cânone literário, especialmente de língua inglesa.

 

“A lúgubre descrição dos nativos em ‘Coração das trevas’, de Joseph Conrad, representava o racismo endêmico na literatura sobre a África mostrada pelos escritores europeus.” (Chinua Achebe)

 

O título do romance é tirado do poema “A segunda vinda”, de Yeats, escrito no final da Primeira Guerra Mundial. O apocalipse imaginado por Yeats em um mundo dominado pela anarquia e a chegada de um messias ambíguo, são um prenúncio da chegada dos colonizadores brancos cristãos que invadiram e destruíram culturas tribais.

(Antes que alguém possa pensar em dizer que eu deveria excluir a qualificação “brancos cristãos” de colonizadores no parágrafo acima, eu afirmo: não quero, nem posso. Leiam o livro e vocês entenderão.)

O mundo se despedaça mostra que a questão cultural de um povo colonizado é muito mais complexa do que afirmações rasas como “eles mesmos quiseram”, “eles deixaram”, “foi bom para eles” e, rebobinando um pouco mais a fita, “os próprios negros tinham escravos”. O livro de Achebe mostra uma sociedade sólida, que funcionava, mas tinha seus problemas — como toda sociedade.

Uma das características mais interessantes deste livro é que ele não é, de forma alguma, maniqueísta. Não tem bem versus mal, colonizador ruim e colonizado vítima. Nós conseguimos ver o todo da situação social por meio de pessoas normais. Um exemplo é o próprio protagonista, Okonkwo, que é um homem de atitudes bastante controversas. Algumas até condenáveis para os nossos padrões. Dentre os colonizadores, havia o Sr. Brown, um homem gentil e que respeitava (de certa forma) o povo da tribo de Okonkwo. Ele era um evangelizador, no conceito mais brando que possa ter esse ato. Ouvia os locais e ensinava seus próprios preceitos.

Chinua Achebe nos mostra lindamente como a cultura oral foi e é muito importante na Nigéria. Em O mundo se despedaça, vemos provérbios interessantíssimos, alguns reproduzo abaixo:

 

“Os provérbios são o azeite de dendê com o qual as palavras são engolidas” (p. 27)

 

“Desde que o homem aprendeu a atirar sem errar a pontaria, o pássaro aprendeu a voar sem pousar.” (p. 42)

 

“Ao se olhar a boca de um rei poderíamos pensar que ele jamais mamou em peito de mãe.” (p. 46)

 

“Pinto que há de ser galo a gente conhece assim que sai do ovo.” (p. 85)

 

“Os dedos de uma criança não se queimam com um pedaço de inhame quente que a mãe coloca na palma de sua mão.” (p. 86)

 

“Se um dedo estiver sujo de óleo, manchará os demais.” (p. 145)

 

O mundo se despedaça é o primeiro de uma trilogia, que segue com os romances A paz dura pouco e A flecha de Deus. A edição que eu li é da TAG Curadoria, enviada aos assinantes em outubro de 2019, mas o livro pode ser encontrado em sua edição padrão em livrarias e sites na internet (deixei um link abaixo). É uma leitura riquíssima, que muda a nossa visão sobre esse processo muitas vezes exposto de forma tão enviesada, como a colonização de países africanos.

 

 

 

Título: O mundo se despedaça
Autor: Chinua Achebe
Tradução: Vera Queiroz da Costa e Silva
Introdução e glossário: Alberto da Costa e Silva
Editora: TAG/ Companhia das Letras
Páginas: 240
Compre na Amazon: O mundo se despedaça.

 

 

REFERÊNCIAS:

Revista TAG Curadoria (Edição outubro/2019)

O livro da literatura. Org. James Canton… [et. al.]. Tradução Camile Mendrot… [et. al.]. Editora Globo (2016)

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