[RESENHA] SHORT MOVIES, DE GONÇALO M. TAVARES

Sinopse: “Short movies é composto de pequenas cenas cotidianas, nas quais o autor exerce sua maior qualidade: a de observador. Como uma câmera, ele captura momentos de beleza e absurdo, retratados com extrema originalidade e singeleza. É o mundo que todos conhecem, mas visto da maneira como só Gonçalo M. Tavares é capaz. “Ele não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!” José Saramago, em 2005 “Gonçalo M. Tavares é um escritor diferente de qualquer outro que você tenha lido antes. Ele tem um dom – como Kafka ou Beckett – de revelar os caminhos nos quais a lógica pode servir fielmente tanto à loucura quanto à razão. Seus livros podem ser sombrios e inquietantes, mas eles são, por isso mesmo, revigorantes numa forma que apenas o trabalho de um artista poderosamente original pode ser.” Mark O’Conell, The New Yorker”

 

Short movies, de Gonçalo M. Tavares (Dublinense, 2015) talvez seja o tipo de livro que, quanto menos o leitor souber a respeito, melhor será a experiência de leitura. Mesmo assim, como eu não posso deixar de recomendá-lo, farei o possível para não revelar muitos detalhes, apenas o essencial.

É um livro de contos bem curtinhos (parece pleonasmo, mas não é!) e mesmo assim, não tem semelhança alguma com os outros livros do gênero. É bom que seja lido aos poucos, como um livro de poesia. E é de fundamental importância que o leitor participe ativamente da leitura, visualizando as cenas e deixando projetar em seu cérebro as pequenas cenas descritas por Gonçalo M. Tavares.

Short movies é basicamente isso: várias cenas reunidas em um livro, acontecimentos ora sem início, ora sem fim, como se o autor tivesse capturado pequenos filmes ou pequenas imagens (neste caso, descrevendo-as) e deixasse a cargo do leitor imaginar possíveis sequências ou não. Esse é um livro para provar que conto não precisa ser sempre início-meio-fim e também não precisa incluir em demasiado características físicas ou emocionais dos personagens, nem detalhar o cenário e por aí vai. Um conto é um conto, nunca foi apenas um degrau para o romance.

Gonçalo M. Tavares foi genial em promover essa experiência de leitura tão peculiar. Aliás, a literatura contemporânea de língua portuguesa feita fora do Brasil tem muito a oferecer em qualidade e entretenimento (procure a Coleção Gira, da Editora Dublinense). Terminada a leitura de Short movies, não pude deixar de ter a seguinte dúvida: estou vivendo ou capturando pequenas cenas por onde passo ou leio, como Gonçalo M. Tavares em seus short movies?

 

“APRENDER

Uma criança que ainda não sabe escrever diz que odeia os pais.

E quer escrever isso no papel: que odeia os pais.

Sabe algumas letras, mas ainda não sabe escrever. Pergunta à mãe como se escreve o nome dela e o do pai. A mãe diz-lhe, soletra, explica. Depois o menino pergunta como se escreve odeio-vos. A mãe hesita, mas depois soletra, explica, ajuda a desenhar as letras.” (p. 46)

 

 

SOBRE O AUTOR: Gonçalo M. Tavares passou a infância em Aveiro, norte de Portugal, e atualmente é professor na Universidade de Lisboa. Com mais de trinta e cinco livros, publicados em cinquenta países, é um dos autores de maior destaque da literatura portuguesa contemporânea. Sua extensa produção inclui poesia, contos, romances, peças de teatro e muitas obras que transcendem as simples classificações. Principais premiações: • Prêmio LER/Millennium BCP (2004), ao romance Jerusalém; • Prêmio Literário José Saramago (2005), ao romance Jerusalém; • Grande Prêmio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores Camilo Castelo Branco (2006), com Água, cão, cavalo, cabeça; • Prêmio Portugal Telecom de Literatura (2007), ao romance Jerusalém; • Prêmio Portugal Telecom de Literatura (2011), ao romance Viagem à Índia; • Vencedor e finalista de prêmios internacionais na Croácia, França, Irlanda, Itália, Holanda e Sérvia.

Fonte: Editora Dublinense

 

 

 

Título: Short Movies

Autor: Gonçalo M. Tavares

Editora: Dublinense

Páginas: 96

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[…] em “ditirambo infinito ou da boniteza descurada”, não pude deixar de lembrar da leitura de “Short Movies”, de Gonçalo M. Tavares, pois fui visualizando os versos projetados em meu cérebro. Aqui, Marcos […]

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