DOM CASMURRO, DE MACHADO DE ASSIS & EDITORA ANTOFÁGICA

DOM CASMURRO, DE MACHADO DE ASSIS & EDITORA ANTOFÁGICA

Sinopse: Prometido para o seminário desde o nascimento, o jovem carioca Bentinho precisa encontrar um jeito de fugir da vida na Igreja e realizar seu verdadeiro sonho: casar-se com a vizinha Capitu. Uma história de paixão, obsessão e ciúme se desenrola, em uma narrativa cheia de reviravoltas, que aos poucos constrói um retrato da sociedade brasileira.

 

Com este romance publicado em 1899, o maior nome da literatura nacional, Machado de Assis, torna-se também parte do cânone mundial. “Dom Casmurro” traz contundentes reflexões sobre o Brasil de sua época, ainda muito relevantes para os dias atuais, e faz isso com a narrativa repleta de ironia que é uma marca do autor.

 

A nova edição da Antofágica traz o texto integral de Machado com notas e posfácio do especialista Rogério Fernandes dos Santos, além de ilustrações de Paula Siebra, apresentação da produtora de conteúdo Camilla Dias e posfácios da atriz e escritora Maria Ribeiro do escritor Geovani Martins.”

 

Veja também: O romance Dom Casmurro, edição crítica e comentada

 

Eu sou do grupo de pessoas que ama Dom Casmurro desde os tempos do colégio.

É estranho, mas juro que é verdade. É bem verdade, também, que eu amei esse livro antes mesmo de entendê-lo em sua profundidade. Mas o mais legal é que, tantos anos depois daquela primeira leitura (imatura), eu ainda estou descobrindo as camadas, a profundidade desse romance.

Dom Casmurro é o livro que eu mais reli na vida; se não me falha a memória, esta foi a sétima ou oitava vez que eu o li. E essa experiência foi absolutamente incrível com essa nova edição da Editora Antofágica!

Li cerca da metade do livro em e-book, depois o restante no impresso. Nos dois formatos, para quem ainda não teve a chance de ler este livro, ou simplesmente não quis (ainda) dar uma (nova) chance ao Casmurro, o que a Antofágica entrega é uma edição com muitas notas de rodapé que ajudam muitíssimo na compreensão do texto, textos de apoio no início e final do romance e ilustrações de tirar o fôlego de tão lindas.

 

 

Ainda sobre os textos de apoio (adoro!), tem sido uma constante nas publicações da Antofágica essa prática de um texto de abertura e outros dois ou três textos após o romance em si. E você pode ler o texto de abertura sem medo (de “spoilers” ou de se cansar antes mesmo de começar)! Nesta edição, a apresentação foi feita pela Camilla Dias (@camillaeseuslivros) que também teve seu primeiro contato com Machado de Assis na escola. E naquela época (não sei a idade da Camilla, nem o tipo de escola que ela estudou, mas vou chutar que ela é mais nova que eu, que tenho 30 anos), nós não sabíamos que Machado de Assis era negro. Aprendemos que ele era grande, gigante. O maior escritor brasileiro de todos os tempos. Mas achávamos que ele era branco. E, vendo superficialmente, parecia que ele era branco falando sobre “coisas de branco da época dele”. Mas não é bem assim, leia (ou releia) e você vai entender. Isso pode parecer irrelevante para muita gente, mas para quem é negro (e/ou teve contato com essa literatura pela primeira vez na escola pública, como no meu caso), essas percepções mais aprofundadas sobre o autor e a sua obra são importantíssimas e indescritíveis.

 

 

Fechando a edição, temos três textos espetaculares e que muito contribuem para a uma melhor compreensão desta obra: a pintora Paula Siebra fala sobre a sua experiência neste trabalho e com a leitura do romance. Por mais que a gente fotografe uma ou outra página do livro, jamais conseguiríamos mostrar o tanto que ele ficou LINDÍSSIMO (José Dias curtiu o superlativo em caixa alta)! O livro inteiro é muito, MUITO lindo; e ela escreveu cada título dos capítulos usando também o bico de pena. O escritor Geovani Martins fala sobre o narrador em Dom Casmurro e abre o seu texto com uma afirmação a qual concordo muito: “o texto, publicado há mais de cento e vinte anos, permanece um dos mais modernos em língua portuguesa”. Em seguida, temos o primoroso Capitu, exílio e poesia, do professor de teoria literária e literaturas de língua portuguesa Rogério Fernandes Santos (uma verdadeira aula, das boas!); e, fechando a edição com chave de outro, O silêncio de Capitu, por Maria Ribeiro, que interpretou a personagem no teatro.

 

 

Talvez você deva estar se perguntando quando é que eu vou falar do livro em si, ao invés de falar apenas da edição. Mas, honestamente, acredito que tudo o que você precisa saber sobre Dom Casmurro está no próprio livro (e o resumo, na sinopse feita pela editora). Se eu puder lhe sugerir uma edição para sua leitura (ou releitura), sugiro fortemente esta da Antofágica, ou de outra editora que trate este livro como ele merece: com notas explicativas e textos de apoio, se possível, pois faz toda a diferença para a sua (boa) experiência de leitura. Mas, para não dizer que não dei a minha opinião sobre o romance, vou responder a duas perguntas muito populares quando falamos deste livro (e a mais uma, como resumo da ópera):

 

Capitu traiu ou não traiu?

Esta é a pergunta mais repetida e talvez a mais “importante” da literatura brasileira. “Importante” porque pode servir como um chamariz para a leitura, promove algum debate em torno da obra e do autor. MAS, FALANDO DE LEITURA MESMO, NÃO DE INTERNET, reduzir Dom Casmurro a esta pergunta… é reduzir demais o livro. Deixemos nossas paixões um pouco de lado: a história é narrada em primeira pessoa por Bento Santiago, narrador não-confiável (e advogado). Só conhecemos a Capitu narrada por ele. Além disso, há toda uma estrutura social da época que induz a presunção de inocência deste personagem (a primeira publicação deste romance, lembre-se, foi em 1899). Esta é uma pergunta sem resposta, sempre vai ser sem resposta (que bom!) e, definitivamente, não é MESMO o mais importante deste romance.

 

Bentinho queria mesmo era o Escobar, você não acha?

Uma suposta relação homoafetiva entre Bentinho e Escobar de vez em quando aparece como interpretação possível, e parece estar ganhando força ultimamente na internet. Eu acho que, se Machado quisesse seguir esse caminho, seguiria abertamente. Parece até que as pessoas não podem ter afeto (ou inveja, ou outros sentimentos) por pessoas do mesmo sexo sem que isso tenha alguma conotação sexual. Ainda que tenha [alguma conotação sexual], e daí? Isso apagaria a relação dele com Capitu ou justificaria várias ações de Bentinho ao longo do romance? Você acha que Bentinho é mesmo sempre inocente ou o narrador (ele mesmo) fez com que você pensasse assim? No mais, acho que Bentinho e Escobar sendo casal é mais um anacronismo ou interpretação do livro feita a partir de memes (que eu acho super divertidos, adoro) que uma realidade dentro do romance.

 

Então quem acha que traiu/não traiu ou que Bentinho queria mesmo o Escobar está errado?

Não, não está. Ainda vivemos em um país democrático (!?). Respeito a leitura que cada um fez ou faz deste romance. A interpretação de Dom Casmurro tem mudado ao longo dos anos, a depender do momento histórico e social em que estamos vivendo. A culpa/”absolvição” de Capitu em alguns momentos e a possível relação de Bentinho e Escobar mais recentemente é prova disso. Nem tudo é claro, gente, na vida ou nos livros. Foi Machado mesmo quem disse. Em Dom Casmurro. 

 

Dom Casmurro permanece o mais favorito entre os meus favoritos, aquele livro que eu vou reler ainda muitas vezes antes de morrer (acho que não tem como ser uma defunta-leitora). Se eu tivesse que escolher apenas um livro para reler até o fim da vida, certamente seria esse que eu pegaria na estante. Se pudesse escolher dois, ficaria com o Casmurro e a história de Lila e Lenu.

 

 

 

Título: Dom Casmurro

Autor: Machado de Assis

Ilustrações: Paula Siebra

Textos de: Camilla Dias, Paula Siebra, Geovani Martins, Rogério Fernandes Santos e Maria Ribeiro

Editora: Antofágica

Páginas: 464

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[…] uma nova meta de leitura. Do mapa, apenas três títulos já foram resenhados aqui no blog: Dom Casmurro, de Machado de Assis; O quinze, de Rachel de Queiroz; e Dois irmãos, de Milton […]

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[…] enredo, temos duas comparações com outras obras muito conhecidas: Otelo, de Shakespeare, e Dom Casmurro, de Machado de Assis, que já traz em si elementos da peça shakespeariana. Em El túnel, o ciúme […]

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