[RESENHA] DIÁRIO E CARTAS, DE KATHERINE MANSFIELD

[RESENHA] DIÁRIO E CARTAS, DE KATHERINE MANSFIELD

Sinopse: “Depois de publicar três volumes de contos dessa extraordinária escritora neozelandeza/ inglesa, e enquanto prepara um quarto volume, a Revan publica uma seleção de cartas e o diário que ela escreveu ao longo de sua vida. Um obra de grande conceito na literatura mundial, onde KM mostra o trabalho incessante e apaixonado que desenvolvia consigo mesma, para aperfeiçoar sua arte.”

 

Nos últimos dias eu estive falando muito sobre Katherine Mansfield por causa do Clube de Leitura Online, é claro (que, a propósito, foi maravilhoso!), mas também porque estive lendo o volume “Diário e Cartas” da autora, publicado aqui no Brasil pela Editora Revan (1996). Li pausadamente e com toda a atenção que um livro merece, mas que nem sempre essa correria da vida (e das redes sociais) permite. E que bom que foi ter passado as últimas semanas em companhia de Katherine Mansfield e sua mente “implacavelmente sensível”, como disse Virginia Woolf!

Sempre ouvimos que “a escrita de Katherine Mansfield é bastante autobiográfica”, mas com este livro é possível perceber isso com maior clareza e naturalidade. Mansfield registrava tudo, a escrita era uma necessidade diária em sua vida. Suas impressões e modo de ver os lugares, as pessoas, as relações, que ela registra em seus diários e cartas, são facilmente comparáveis aos seus textos de ficção, mesmo aqueles que não pareçam tão autobiográficos.

 

“Estar viva e ser escritora é o bastante. Sentada à minha mesa, acabo de ver uma pessoa se virando para outra, sorrindo, estendendo a mão, falando. E, de repente, cerrei os punhos, bati na mesa e gritei: não há nada como isso.” (p. 79)

 

Fiquei bastante contente de vê-la falando sobre suas leituras, algumas de autoras que eu amo, como as irmãs Brönte, Jane Austen, Elizabeth Gaskell. Há aqui muito sobre Shakespeare (paixão da autora), e também trechos sobre Dostoiévski, E. M. Forster, Tchekhov… Impossível sair deste livro sem ficar com uma vontade louca de ler Tchekhov! Os contos do autor russo foram grande inspiração para K. Mansfield na escrita de seus próprios contos.

Obviamente também há bastante coisa sobre Virginia Woolf, mas de forma ainda mais íntima, já que as escritoras foram contemporâneas e o casal Woolf publicou o livro Prelude, de Katherine Mansfield, em sua editora Hogarth Press. Além disso, tem aquela inveja mútua que as duas tinham, e a situação constrangedora de uma resenha negativa que Katherine fez de um livro de Virginia. Sim, esse livro mescla situações que são pura prosa poética do cotidiano com fofocas picantes (D. H. Lawrence, responsável pelas mais interessantes)!

 

D. H. Lawrence teria se inspirado em seus amigos Katherine Mansfield e John Middleton Murry para compor o casal Gudrum e Gerald, do livro “Mulheres Apaixonadas” (casal da foto, na adaptação da BBC). Os Murry não concordavam, não se viam nesses personagens. Mas, sinceramente, vejo um pouco de Katherine Mansfield em Gudrum, sim!

 

“Aqui está um pequeno sumário do que eu necessito — poder, saúde e liberdade. É a doutrina desesperadamente insípida, segundo a qual o amor é a única coisa no mundo que é ensinada e posta dentro das mulheres, de geração em geração, e que nos detém de um modo tão cruel. Devemos nos livrar desse demônio — e então virá a oportunidade de felicidade e libertação.” (p. 31)

 

 

Para mim foi uma viagem não só no tempo e lugar, mas por uma mente realmente sensível à vida, mesmo tendo gozado tão pouco de sua plenitude: ela viveu 34 anos, os últimos 5 seriamente doente. Reforçou o que eu sempre vi nos contos dela: um forte desejo de viver; viver com plenitude, com paixão. De “ser tudo o que for capaz de ser”. Sua despedida, nesta edição, encheu-me de melancolia: “Adeus, minha querida prima. Jamais conhecerei ninguém como você; sempre me lembrarei de cada pequena coisa sobre você (31/12/1922)”. Eu também, Katherine. Eu também.

 

***

O diário e as cartas presentes neste livro abrangem os anos de 1907 até 1922, pouco antes da morte da autora (09/01/1923). A tradução é de Juliana Cupertino, com introdução de Esdras Nascimento e o livro contém, ainda, algumas fotografias de Katherine Mansfield, seus familiares e amigos, incluindo D. H. Lawrence e o casal Woolf. Um tesouro publicado pela Editora Revan (1996, 288 p.). Compre na Amazon, clicando aqui.

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[…] eu gosto muito, e passei a gostar ainda mais com esse encontro do Clube de Leitura e também com a leitura do diário dela. O que eu trago aqui, abaixo, é a minha nova leitura de Bliss, a leitura atual feita para o Clube […]

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