[RESENHA] ESPOSAS E FILHAS, DE ELIZABETH GASKELL

Sinopse: “Inglaterra provincial, 1830. Molly Gibson, filha única de um médico viúvo, é negligenciada por Miss Clare, ex-governanta. Sete anos depois, Molly é uma atraente jovem que desperta o interesse de um dos aprendizes de seu pai, Mr. Coxe. O afeto é descoberto, e Mr. Gibson envia a filha para ficar com os Hamleys, de Hamley Hall, uma família da pequena nobreza. Lá ela se torna amiga do Hamley mais novo, Mr. Roger. O filho mais velho da família, Osborne Hamley, um jovem bonito, inteligente e mais elegante do que seu irmão, é esperado para fazer um casamento brilhante após uma excelente carreira na Universidade de Cambridge. Porém, um grande segredo o envolve. Intrigas, mexericos, preconceitos, traições, tragédias e amor marcam este formidável romance considerado pela autora como Uma História Cotidiana.”

 

Elizabeth Gaskell é muito conhecida dentre os admiradores da literatura inglesa, especialmente pelo romance Margaret Hale (Norte e Sul). Quem conhece a história de Margaret e Mr. Thornton pensa que já leu o melhor da autora. Contudo, Esposas e Filhas, embora não tenha um personagem masculino tão marcante como John Thornton, possui um enredo riquíssimo e tem todas as qualidades para se tornar o novo favorito da autora na estante de muitos leitores.

O romance narra a história de Molly Gibson e também dos habitantes da cidade interiorana de Hollingford. Mrs. Gaskell, como assinava as suas obras, ficou famosa por detalhar com maestria as muitas camadas da sociedade da Inglaterra Vitoriana. Seus romances, inclusive, foram e continuam sendo fonte de pesquisa para historiadores sociais e para os leitores que gostam de saber mais sobre a cultura da época.

Não ensine muitas coisas a Molly. Ela deve saber costurar, ler, escrever e fazer cálculos, mas quero que continue sendo uma criança, e, se eu descobrir que ela precisa aprender mais do que o desejável, eu mesmo providenciarei. Afinal, não tenho certeza se ler e escrever sejam necessários. Muitas mulheres de boas condições casam-se usando um ‘X’ ao invés do nome. Isto é mais para uma dissolução do juízo materno. Contudo, devemos nos render aos danos da sociedade, Miss Eyre, então, você pode ensinar a menina a ler.” (ps. 30 e 31)

 

Molly, em visita à mansão de Towers, quando ainda criança, passa por uma situação desagradável durante o passeio: adormece e é negligenciada por Clare, antiga governanta das crianças da mansão, que esquece de acordar a menina a tempo de ir para casa quando todos os convidados já haviam ido embora. Mal sabia a garota que o destino das duas se cruzaria novamente, alguns anos depois.

Mr. Gibson, pai de Molly e médico de Hollingford, recebe em sua casa alguns estudantes a fim de lhes ensinar o ofício da medicina. Com sua filha tornando-se moça, ele se preocupa com as investidas de um de seus alunos e decide enviar Molly para passar algum tempo com a família Hamley.

Na casa dos Hamleys, Molly estabelece uma grande amizade com o casal Hamley, sobretudo com Mrs. Hamley. A jovem torna-se como uma filha para a senhora, que possui uma saúde frágil. O fazendeiro, Mr. Hamley, muito amigo de Mr. Gibson, também nutre uma forte afeição pela jovem, vendo o bem que ela faz a sua esposa. Todo esse afeto também se estende aos filhos do casal, Osborne e Roger, sendo este último objeto de um carinho mais especial por parte de Molly.

Ela sentiu que ele lhe fazia bem, mas não sabia como ou por quê. Depois de uma conversa com ele, sempre achava que tinha encontrado o caminho para a bondade e a paz, o que quer que acontecesse.” (p. 115)

 

Neste ínterim, percebendo que o mais adequado seria arrumar uma nova mãe para Molly, a fim de orientá-la e ajudá-la com os assuntos da mocidade, o médico decide se casar justamente com Mrs. Kirkpatrick, Clare, e assim formar uma nova família. Ela também é viúva e tem uma filha mais ou menos da idade de Molly, Cynthia.

Molly, a princípio, detesta a ideia de ver seu pai casando-se novamente, ainda mais com uma mulher por quem ela não tem muita simpatia. Contudo, por amor a ele e também por sua índole gentil, aceita o casamento e faz o possível para viver bem com a madrasta. O casamento, no final das contas, teve seu ponto positivo, pois Molly e Cynthia tornam-se grandes amigas, apesar da personalidade complicada da filha de Clare.

‘Eu gostaria de poder amar as pessoas como você, Molly!’

‘Você não pode?’, perguntou Molly com surpresa.

‘Não. Acredito que muitas pessoas me amam, ou pelo menos é o que penso, mas nunca me importo muito com ninguém. Acredito que amo mais você, Molly, que conheço a dez dias, mais do que a muitos.’” (p. 182)

 

Cynthia e sua mãe são personagens fascinantes. Não são essencialmente boas, mas também não posso dizer que são más. Nem mocinhas, nem vilãs. Mesmo Mrs. Gibson, com seu caráter duvidoso, não poderia assumir a máscara de vilã. Apenas dissimulada, ou, se pensarmos em como era a sociedade da época, uma sobrevivente, disposta a usar das artimanhas que fossem possíveis para conseguir atingir os seus objetivos.

Gaskell enfatiza o papel das mulheres em seus livros ao criar personagens femininas que fugiam do lugar comum. Em Esposas e Filhas podemos observar que todo o enredo é estruturado em torno das mulheres, as esposas e filhas de Hollingford, suas ações e convicções.

A autora faleceu em 12 de novembro de 1865, aos 55 anos, em decorrência de um ataque cardíaco. Seu último livro, Esposas e Filhas, que estava sendo publicado de forma seriada desde o mês de agosto de 1864, ficou inacabado. Nós podemos imaginar o destino dos personagens e o editor da Cornhill Magazine, Frederick Greenwood, fez algumas considerações sobre o que estaria reservado para o destino dos nossos queridos personagens, especialmente o de Molly e Roger. Confesso que ao chegar às últimas páginas senti uma grande melancolia, mesmo sabendo previamente que o livro havia ficado inacabado. Como leitora, imagino quantas histórias Mrs. Gaskell ainda seria capaz de escrever e como seria ótimo ler o final de Esposas e Filhas escrito por ela.

A história é interrompida aqui, e nunca será terminada. O que prometia ser a obra-prima de uma vida é um memorial da morte. (…) Mas, se a obra não foi terminada, pouco resta para ser adicionado e este pouco se reflete claramente em nossa imaginação.” (p. 533)

 

O romance foi adaptado pela BBC em 1999, mas a produção não é a das melhores feitas pela emissora britânica. Quem, como eu, assistiu a série antes de ler o livro, fica com a impressão de que a história é razoavelmente boa. Nada mais do que isso. Mas não é verdade! A produção deixou muitas lacunas e, depois de ler o romance, tenho minhas dúvidas quanto a escolha do elenco (embora possua grandes nomes da teledramaturgia britânica). O positivo de assistir Wives and Daughters é, certamente, ver o final da história, pois ele consegue corresponder às nossas expectativas.

Esposas e Filhas da Pedrazul Editora conta com as lindíssimas ilustrações de George Du Marrier, presentes na publicação seriada e na primeira edição do livro. Para quem gosta de uma boa história, o romance é uma ótima pedida: cada página é um deleite e cada capítulo nos faz querer ler o próximo imediatamente. Amores, segredos e a vida na sociedade vitoriana, um verdadeiro clássico indispensável da literatura inglesa.

 

Título: Esposas e Filhas

Autora: Elizabeth Gaskell

Tradução: Ellen Cristina Bussaglia

Editora: Pedrazul

Páginas: 540

REFERÊNCIA

http://en.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_Gaskell

Resenha em colaboração com o blog Escritoras Inglesas.

 

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