[RESENHA] AMOR & AMIZADE, DE WHIT STILLMAN
Sinopse: “Incrivelmente bela, surpreendentemente espirituosa e completamente devotada… aos próprios interesses: Conheça Lady Susan Vernon, a Alma e o Espinho de Amor & Amizade.Viúva, falida e mãe de Frederica, uma adorável garota em idade para se casar, Lady Susan tem uma missão: encontrar um bom marido – ou seja, rico – para a filha e sobretudo para si.Dona de uma eloquência e de um charme sem iguais, Lady Susan flerta com qualquer homem endinheirado que possa salvá-la de sua desgraça financeira, o que lhe rende a fama de “rainha do flerte”.Mas quando suas tentativas de garantir o futuro não saem como o esperado, Lady Susan recorre à gentileza (e ao dinheiro) de seu cunhado, Charles, e vai passar uma temporada em sua propriedade rural para se afastar das fofocas.Lá, ela conhece Reginald, irmão da esposa de Charles, e único herdeiro da fortuna da família DeCourcy. Ao perceber que Frederica está se encantando pelo rapaz, Lady Susan decide que o jovem Reginald seria um belo e abastado marido… para si mesma.”
O livro Amor & Amizade é um dos raros casos em que a reescrita de um clássico acaba por tornar-se tão bom quanto o original. Particularmente, o roteiro de Whit Stillman, publicado em prosa pela Editora Gutenberg em 2016 consegue ser até mais divertido que Lady Susan, pequena história epistolar escrita por Jane Austen em 1794 e publicada originalmente anos mais tarde, em 1871.
Nessa releitura, o autor dá voz a Rufus Martin-Colonna de Cesari-Rocca, sobrinho de Lady Susan, que pretende, com a escrita de seu livro, reparar um erro terrível em relação ao mau julgamento feito da moral de sua tia, com base nas cartas publicadas pela autora solteirona. Sim, Jane Austen é mencionada diversas vezes na história, ainda que o seu nome não seja dito.
“À Vossa Alteza Real,
O Príncipe De Gales
SIR, para aqueles a quem Vossa Alteza Real é conhecida a não ser pela exaltação de vossa superioridade, talvez possa causar alguma surpresa que os presentes locais, personagens e incidentes, que têm referência apenas à vida comum, sejam trazidos a tão augusta presença. Vosso desejo inconteste de ver a justiça prevalecer em nosso Reino encorajou-me, a mim, um indivíduo insignificante, residente em uma ignominiosa morada, a buscar a deferência benevolente de Vossa Alteza Real para com o presente relato no qual Vossa Alteza Real encontrará Total Absolvição de alguns de seus fiéis súditos, caluniados e difamados pela mesma Autora Solteirona que tão friamente declinou da mui generosa e condescendente oferta de patronato de vosso ilustre predecessor, o Príncipe Regente.
Com a mais sincera admiração e profundo respeito,
SIR, do mais obediente, mais diligente e mais devoto
súdito de Vossa Alteza Real,
R. Martin-Colonna De Cesari-Rocca
Londres
18 de junho, 1858”
“Lady Susanna Grey Vernon era minha tia – a mais amável e cativante mulher que alguém poderia conhecer, uma figura ilustre de nossa Sociedade e Nação. E estou convencido de que as insinuações e acusações levantadas contra ela são, em sua quase totalidade, inteiramente falsas.” (p. 17)
Com base nas cartas publicadas, nos relatos de amigos e familiares, Rufus conta a história de Lady Susan, incrementando algumas passagens e defendendo-a quando a situação indica algum possível constrangimento.
Lady Susan Vernon é uma mulher sedutora, que sabe o que quer e dispõe-se a fazer o que for necessário para conseguir. É a protagonista fora da curva de Jane Austen, que criou mocinhas memoráveis, como Elizabeth Bennet, de Orgulho e Preconceito, espelho para muitas mulheres mundo afora. Ainda que Lady Susan seja diferente, isso não quer dizer que a personagem nos cause antipatia. Pelo contrário, seu poder de sedução consegue ultrapassar as páginas do livro e nós acabamos torcendo para que ela vença a batalha que é a vida na sociedade de sua época.
“Quando se trata de bajular, não se contenha – Lady Susan comentou (“dada a sua vasta experiência”, a solteirona escreveu). – Homens são uns tremendos glutões de elogios, nunca é suficiente.” (p. 97)
Nossa protagonista é uma jovem viúva empobrecida e com uma filha em idade matrimonial. Desta forma, vai fazer o que estiver ao seu alcance para conseguir um marido de posse de uma boa fortuna, citando Sra. Bennet (Orgulho e Preconceito), para salvar a filha e a ela mesma, da miséria. Seus objetivos parecem bem claros, até que a mulher percebe que o bom partido que ela idealizou para tornar-se marido de sua filha poderia ser um bom partido para si mesma.
Minha grande dúvida em relação a esse livro era se ele tratava-se de uma nova reimpressão das cartas que compõem Lady Susan, de Jane Austen. Aquele selo na capa, creio eu, confundiu mais do que esclareceu. Então eu li a resenha que o blog Dezoito Primaveras fez e finalmente pude concluir que a edição contém os dois textos: O de Stillman e o de Austen, sendo o último acrescido dos comentários do personagem Rufus Martin-Colonna de Cesari-Rocca. Sendo assim, caros leitores, se vocês também tinham essa dúvida, podem comprar sem medo. Amor & Amizade vale a pena até para quem, como eu, têm outras três edições de Lady Susan, com o texto de Jane Austen. Para quem ainda não leu a história, essa edição é uma ótima oportunidade para conhecê-la!
SOBRE O AUTOR: Whit Stillman é roteirista, diretor e um grande fã de Jane Austen. Entre suas obras cinematográficas estão Metropolitan, Barcelona, Os últimos embalos da disco, Descobrindo o amor e Amor & Amizade, uma desonesta representação desta história. Na universidade, ele foi editor do Harvard Crimson e posteriormente trabalhou na área editorial e na jornalística. Seu primeiro romance, The Last Days of Disco Whit Cocktails at Pretossian Afterwards, também surgiu de um roteiro de cinema e ganhou o prêmio literário Fitzgerald.
Título: Amor & Amizade
Autor: Whit Stillman
Tradução: Nilce Xavier
Editora: Guttenberg
Páginas: 240
Compre na Amazon: Amor & Amizade.
Veja abaixo o trailer legendado do filme: