[RESENHA] BLISS, CONTO DE KATHERINE MANSFIELD

caminho-para-felicidade

 

Que é que podemos fazer se temos trina anos e, ao dobrar a esquina de nossa própria rua, somos invadidos subitamente por uma sensação de felicidade – absoluta felicidade! – como se tivéssemos de repente engolido um rútilo pedaço deste sol da tardinha e ele estivesse a arder em nosso peito, a despedir um chuveiro de minúsculas faíscas em todas as partículas do nosso ser, até nos dedos das mãos e dos pés?…” (p. 1)

 

Bliss, assim como saudade, é uma palavra sem tradução exata para outras línguas. Érico Veríssimo, dentre outros tradutores, escolheu felicidade como correspondente de bliss para o português, mas a palavra também pode significar êxtase ou euforia.

O conto de Katherine Mansfield, escrito em 1918, tornou a escritora neozelandesa conhecida em diversos países e, supostamente, teria enciumado ninguém menos que Virginia Woolf devido ao grande talento da contista, em especial em relação a história contada em Bliss.

Neste conto acompanhamos, ora em terceira pessoa, ora em primeira, Berta Young e seu momento de extrema felicidade. A mulher de trinta anos, apesar da idade, ainda sentia lampejos de êxtase, tal qual uma jovem, como indica o seu sobrenome (Young, em português, quer dizer jovem).

 

Apesar dos trinta anos Berta Young tinha ainda momentos como aquele em que desejava correr em vez de caminhar, dar passos de dança de um lado a outro da calçada, fazer rodar um arco, jogar alguma coisa para o ar e apanhá-la de novo, ou então ficar parada e rindo de… nada… nada, simplesmente rindo.” (p. 1)

 

Berta tinha tudo aquilo que faria qualquer mulher de seu sua camada social feliz: uma boa casa, marido, uma filha e, também, amigos elegantes. Contudo, algumas situações podem tirá-la de seu êxtase e transportá-la para uma realidade não tão feliz assim. Sua filha, por exemplo, ficava quase exclusivamente sob os cuidados da babá, a nurse, que fazia questão de restringir o contato entre mãe e filha. Entretanto, permite que a bebê puxe a orelha de um cachorro em um parque.

 

Berta quis perguntar se não era um pouco perigoso deixar a menina pegar as orelhas de cachorros desconhecidos. Mas não teve coragem. Ficou a olhar para ambas, com os braços caídos ao longo do corpo, como a menina pobre diante da menina rica que tem uma boneca.”  

(p. 3)

 

Katherine Mansfield escreve sobre aquela felicidade quase tangível, que inebria, mas passa. A vida é feita de momentos como esses, bliss, tornando-nos, muitas vezes, tal qual Berta Young. A autora,  em geral,  foge da linearidade que leva quase sempre a um “final feliz” em suas histórias, tornando a leitura de seus contos sempre uma surpresa e um deleite para nós, leitores.   

Bliss (Felicidade) pode ser encontrado em diversas edições de livros de Katherine Mansfield e também em alguns sites pela internet. Na publicação feita pela editora Nova Fronteira, com tradução de Érico Veríssimo, estão presentes também os contos O dia de Mr. Reginald Peacock, A evasão, Nuvem de primavera, Psicologia, “Je ne parle pas français”, “Feuille D’Album”, A jovem governanta, O seu primeiro baile, A lição de canto, O vento sopra, Sol e lua, Revelações e Prelúdio.

 

 

REFERÊNCIAS:

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/cultura/livros/0054.html

http://www.criticaecompanhia.com.br/adriana.htm

 

Resenha em colaboração com o blog Escritoras Inglesas.

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[…] desativado). Bliss também foi um dos primeiros textos de ficção que eu li e resenhei (desta vez aqui mesmo no meu blog) depois que a Olívia nasceu. Eu sentia certa insegurança sobre se eu conseguiria […]

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