[DIÁRIO] Só dez por cento é mentira: a verdade na poesia de Manoel de Barros
- By: Tamires de Carvalho
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Manoel de Barros (1916-2014) foi e sempre será um poeta da verdade. Da verdade da vida que teimamos em esquecer. Ele enxergava e respirava poesia em todo o lugar, em todo o momento, e talvez por isso sempre dissesse que só teve infância. A poesia não floresce em corações amargos e amargurados de jovens e adultos sempre tão ocupados.
O premiado documentário Só dez por cento é mentira (2008) mostra as várias infâncias do poeta, inclusive daquela que ele vivia no momento, a terceira infância, com pouco mais de setenta anos, até mais de oitenta. Nele, vemos alguns poemas de Barros entremeados com entrevistas de alguns leitores profundamente tocados e modificados pela poesia quase pueril do autor, além de depoimentos do próprio. A esposa de Barros diz, em entrevista, e é completamente compreensível, que mesmo àquela altura da vida, ela sentia muito ciúme do marido. Ela sabia, assim como sabem os leitores do poeta das verdades, que ele era um homem profundamente inteligente. Um tesouro que habitou a terra. Afinal, só as pessoas inteligentes conseguem ver as preciosidades da vida sem se contaminarem pelos dissabores da sociedade.
O poema Sou um sujeito de recantos / Os desvãos me constam / Tem hora leio avencas / Tem hora, Proust / Ouço aves e beetovens / Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin / O dia vai morrer aberto em mim., relaciona-se com a vida de Manuel de Barros em resumo, conforme mostrado no belo documentário. Se é verdade que todo poema é autobiográfico, este não poderia ser menos o retrato de seu autor. Ele foi um sujeito que conseguia ler avencas e também um autor de peso, como Proust. Ouvia aves e a música clássica das abelhas. Estava aberto a tudo que era belo no universo. Só dez por cento do que escrevia era mentira. Os outros noventa, dizia ser invenção. Mas sua obra é cem por cento verdadeira, no que concerne a vida e o ser realmente humano.
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Esse texto foi escrito para a Avaliação a Distância (AD2) da disciplina Literatura Brasileira IV, do curso de Letras da UFF/CEDERJ. Gostei tanto do poeta que já li um de seus livros, Meu quintal é maior do que o mundo, e recomendo muitíssimo que vocês assistam o documentário abaixo. É impossível não se apaixonar pelo autor. Sua poesia e a maneira como ele enxergava a vida são contagiantes!
[…] Outubro também foi o mês que eu descobri um dos melhores poetas brasileiros que já existiu: Manoel de Barros. Li o livro Meu quintal é maior que o mundo e fiquei tão encantada que prometi a mim mesma reler as poesias do autor pelo menos uma vez ao ano. Não tem resenha do livro aqui no blog, mas tem um texto que eu escrevi para um trabalho da faculdade (Letras, eu te amo!) com link de um documentário maravilhoso feito sobre a vida do autor. Clique aqui e confira! […]